O Espírito do Lugar

© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: De Motoca na Estrada

O ESPÍRITO DO LUGAR
Fábio Magnani
[publicado originalmente em julho de 2009]

14.07.2009

Equipamento

Em 2007 e 2008, época em que fizemos várias viagens de moto, sempre batemos um monte de fotos. Mas sem nenhuma técnica ou equipamento especial. Durante esse tempo todo usamos uma Sony Cybershot W70, com 7 megapixels, zoom ótico de 3x, sem steady shot, cartão de 1 gigabytes e sem regulagens manuais.

No começo de 2009, com a Renata grávida, achamos que seria uma boa idéia investirmos um pouco mais em fotografia. Seria um bom hobby para a Renata – que ficou um ano sem andar na garupa -, registraríamos bem os primeiros tempos do bebê e os nossos relatos de viagens ficariam melhores. Começamos a olhar na rede qual seria a melhor máquina para o nosso estágio. Aparentemente são as Nikon. Mas são bastante caras, então decidimos comprar algo intermediário para vermos se realmente gostaríamos do novo hobby. Encomendamos uma Sony Cybershot H10, com 8 megapixels, zoom ótico de 10x, steady shot, cartão de 8 gigabytes e algumas regulagens manuais. Não compramos lentes adicionais.

Além disso, já estava chegando a hora de substituir a W70 por uma máquina um pouco mais moderna. Queríamos novamente uma pequena que pudesse ser levada no pescoço, mas com um zoom maior, steady shot e pelo menos alguma configuração manual. Na hora da decisão, pensamos em uma outra Sony, de forma a aproveitarmos os mesmos cartões e baterias, ou talvez uma Canon point-and-shoot, que aparentemente teria mais  ajustes manuais. No final das contas optamos por uma Canon SX110 is, parecida com a H10, mas um pouco mais compacta. No momento ela está em avaliação ainda, pois não sabemos se realmente vai ter a desenvoltura da W70 para ser levada no pescoço.  Por outro lado, pode ter uma qualidade tão parecida com a H10 que seja a sua substituta. No final das contas, talvez oda a teoria de duas máquinas vá por água abaixo e a SX110 venha a ser a única a ser levada

Parece ser inevitável que compremos alguma Nikon profissional daqui um tempo. Mas não acho que a Nikon, com suas imensas lentes e flashs, será interessante para viagens de moto. Acredito, então, que sempre teremos algumas máquinas mais simples e compactas para viagens – uma para pescoço e outra para o bauleto – e, eventualmente, uma profissional pelo único prazer de tirar fotos, mas – desculpem a rima – sem motos.

Teoria e Técnicas

O próximo passo foi a aquisição de material para estudo da fotografia. Na parte técnica, encontramos alguns artigos muito bons na wikipedia, sobre abertura (aperture), profundidade de campo (depth-of-field) e velocidade (shutter speed). Existe também um índice de princípios técnicos de fotografia como ponto de partida para muito mais informações, mas naquele momento inicial ficamos apenas nos primeiros três princípios básicos.

Também fizemos uma pesquisa em livros que poderiam nos ajudar.

Outro material muito bom que conseguimos foi um conjunto de edições especiais da revista Digital Camera World, envolvendo os conceitos de cor, iluminação, exposição e composição.

  • Master Colour – Digital Camera World
  • Mastering Composition – Digital Camera World
  • Mastering Light – Digital Camera World
  • Mastering Exposure – Digital Camera World

Dicas

Do nosso pequeno e breve conhecimento de fotografia, conseguimos extrair algumas dicas para a fotografia em viagens de moto.

  • Levar duas máquinas.  A H10 tem muito boa qualidade, mas é grande demais para levar no pescoço. Ela vai no bauleto, dentro de uma bolsa térmica. Quando vamos usá-la, é preciso descer da moto, tirar a luva e abrir o bauleto. Já a W70 vai pendurada no pescoço, dentro da jaqueta. Com ela é possível tirar uma fotos em cima da moto.
  • Sharpness (imagem focada). Embora a cor, iluminação e composição possam ser até um certo ponto corrigidas posteriormente no photoshop, é difícil melhorar uma imagem sem foco. Por isso é muito importante que a imagem tenha foco perfeito. Para conseguir isso é fundamental o uso de um tripé e boa iluminação. O problema é que fica difícil ver no monitor digital da máquina se a imagem ficou com foco ou não. O segredo aqui é fazer um zoom máximo na visualização da foto, de forma realçar qualquer falta de foco, mesmo no pequeno monitor digital.
  • Tripé. Nas nossas viagens levamos um tripé de 15cm para colocar em cima da moto ou capacete, que pode ser levado no bolso. Agora compramos outro de 1m, para ser levado no bauleto. Todos os profissionais dizem que o segundo investimento a ser feito em fotografia – depois da máquina – é no tripé. Mas é uma decisão delicada, porque representa um bom peso e volume a ser levado na viagem.
  • Uso do flash durante o dia. O uso de flashs é para profissionais. Qualquer amador usando flahs bate fotos horríveis. Mas um uso fácil e de bom resultado é tirar fotos durante o dia em lugares com sombra. Por exemplo, você está em um restaurante com amigos e quer tirar foto deles, mas a janela por detrás insiste em saturar a imagem. O uso do flash faz com que haja maior uniformidade na iluminação. Mas lembre-se de não ficar muito perto para não criar sombras, ou muito longe porque o flash tem curto alcance.
  • Iluminação. Para tirar fotos de paisagens os melhores horários do dia são ao nascer ou pôr do sol, quando as sombras causam o efeito de profundidade. O problema é que nesses horários normalmente estamos saindo ou chegando de moto. Um compromisso que deve ser feito na viagem. Sair cedinho ou ficar no lugar para fotos legais? Dias encobertos também são muito bons para homogenizar a iluminação. Por incrível que pareça, dificilmente um dia ensolarado ao meio-dia produz boas fotos, com a excessão de fotos aéreas do mar.
  • Zoom. Embora o zoom seja normalmente usado para aproximar objetos distante, os fotógrafos profissionais usam para outra função. O zoom aproxima os objetos entre si, enquanto as grandes angulares os afastam. Por exemplo, imagine que você quer tirar a foto de uma pessoa na frente de uma escultura. Você pode conseguir o mesmo enquadramento ficando longe com uma lente de zoom ou próximo com uma lente grande angular. Mas os efeitos serão diferentes. No primeiro caso, com o zoom, a pessoa vai parecer perto da escultura. No segundo, os dois vão aparecer distantes um do outro.
  • Exposição. A exposição da foto, que nada mais é que a quantidade de luz que vai entrar no sensor, depende de quanto o diafragma foi aberto (abertura) e quanto tempo ficou aberto (chamam esse tempo de velocidade). É possívell conseguir a mesma exposição abrindo bastante o diafragma por pouco tempo ou abrindo pouco o diafragma por muito tempo. Mas os efeitos são diferentes. Para uma mesma exposição, quanto menor for a abertura do diafragma maior a profundidade de campo (depth-of-field). O que é isso? É a porção da foto que fica focada. Por exemplo, em uma foto de paisagem você quer que toda a imagem fique focada. Mas no caso de uma flor, você quer que a flor fique em foco mas o fundo fique desfocado. Isso se consegue mudando o depth-of-field. Mas uma coisa importante para se falar é que o zoom ou distância da máquina ao objeto também influenciam o depth-of-field.
  • Regra dos terços. Para ter uma foto que chame a atenção, é preciso criar uma certa tensão. Por isso, o objeto de interesse nunca deve estar no centro da imagem, e sim a um terço de cada uma das bordas. Isso faz com que o observador da foto seja atraído diretamente para o objeto e depois navegue pelo restante.
  • Tamanho. Para dar uma noção de tamanho, é interessante colocar um elemento de tamanho conhecido na foto, como um carro perto de uma montanha ou uma pessoa perto de uma escultura.

Espírito do Lugar

Para tirar uma foto legal é preciso dominar uma série de elementos: cor, composição, exposição e luz. Isso além da escolha do equipamento, lentes, filmes, tripés e filtros, e o pós-processamento no Photoshop. O livro “Spirit of Place” (O Espírito do Lugar) fala sobre alguns destes elementos aplicados a fotografias de viagens. O autor, Bob Krist, é fotógrafo profissional que aceita contratos de grandes revistas, como a National Geographic. Mas o principal assunto do livro, mesmo, é como captar o espírito do lugar. O autor critica aqueles que tiram fotos como se eles – os fotógrafos – fossem o grande acontecimento do lugar onde estão. Também não vê com bons olhos aqueles que usam a fotografia para demonstrar alguma técnica. Para captar o espírito do lugar é preciso conhecer a sua cultura, conversar com as pessoas e passar o dia todo em um local esperando a iluminação perfeita. O autor ainda dá dicas de como abordar pessoas para fotos ou para conseguir informações não encontradas nos guias. Muito legal mesmo.

Existem, no mínimo, dois tipos de fotografia que podem ser feitas durante uma viagem: artísticas e jornalísticas. Nas fotos artísticas queremos tirar fotos bonitas, impressionantes, inovadoras ou audaciosas. Nas jornalísticas, queremos registrar o “Espírito do Lugar” ou da situação. Mas lá no fundo não existe essa separação. Fotos só artísticas não transmitem informações sobre o local. Fotos só jornalísticas não passam a emoção, o movimento ou a vida do local. É preciso saber dosar os dois extremos. Outro dualismo enganoso sobre as fotos de viagem é se o mais importante é saber escolher do que tirar foto ou a técnica no momento de apertar o botão. Mais uma vez, é preciso mesclar os dois extremos. Para não ficar em cima do muro, prefiro exagerar para o lado jornalístico e saber de onde tirar as fotos. O registro do local ou situação me parece mais interessante do que uma foto linda. Mas não é um julgamento de valores, apenas gosto mesmo. Além disso, é só um ponto de partida. Espero chegar a um equilíbrio entre esses opostos conforme caminhamos nesta área de fotografia.

Algumas fotos

Seguem algumas fotos que tiramos com a H10. São nossas primeiras experiências. Abaixo a primeira foto que tiramos, com a máquina como saiu da caixa. Sem tripé, sem escolher iluminação, sem mudar o fundo, sem procurar a melhor posição e sem nenhum ajuste de parâmetros. Vamos ver se com o treino e estudo as fotos vão saindo melhor.  Par de pimentas malaguetas gêmeas plantadas na sacada de nossa casa. Fraternidade acima de qualquer diferença.

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