Bonito-PE

© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: De Motoca na Estrada

BONITO-PE
Fábio Magnani
[publicado originalmente em fevereiro de 2009]

16.02.2009

Registro do Passeio à Cachoeira Véu da Noiva – Bonito/PE – 15/02/2009

Depois de alguns meses sem atividade, o pessoal que se encontra no 75 resolveu marcar um passeio de moto. Nada como aproveitar o seco verão do nordeste para um banho de cachoeira. Assim que todo mundo confirmou que ia começou a chover. É o ClubeXT600 dando a sua contribuição ao combate da seca, pois há 139 anos não chovia uma semana toda em fevereiro aqui pela região.

No dia marcado, nos encontramos no posto Texaco da Abdias. Nos cumprimentamos, tiramos fotos oficiais e… ao começarmos o sacramento do abastecimento das motos, percebemos que o posto estava fechado. Tudo bem, andamos 200 m até um outro posto e repetimos todas as fotos.

Ida sem eventos dramáticos até o Rei das Coxinhas. Apenas o céu que ia ficando cada vez mais preto. Claro que tínhamos acreditado na previsão do tempo e no histórico climático da região e não tínhamos levado nenhuma capa. Com exceção de um dos integrantes, alcunha Noiva, que levou roupa para andar de moto no sol, na chuva, na estrada e na trilha, bem como roupas leves para caminhar em trilhas, tomar banho de cachoeira e papear em barzinhos.

Começamos a pegar chuva no caminho até Bonito-PE. O trecho posterior, até a cachoeira, é lindo. Fomos subindo uma serra sempre com a visão de vales ao redor. Ao chegarmos em um trecho em que estavam fazendo o asfalto, um peão começou a agitar as mãos com bastante veemência. Todos nós paramos, menos o Rapaz com Problemas, que jogou a moto na brita para ver o que aconteceu. Depois que ele descobriu que não dava para passar – o que era óbvio pela obra e pelos gestos do peão-, enquanto olhávamos impassivelmente de cima da colina, ele tentou voltar pela brita: chão. 0x1. Quando vimos a queda aceleramos rapidamente as nossas motos de encontro ao acidente para tentarmos fotografar o símbolo da teimosia, mas não chegamos a tempo.

Seguimos então uma estradinha de lama, cheia de caminhões de obra. A chuva foi se intensificando, mas chegamos sem incidentes ao barzinho próximo à cachoeira. Depois de um descanso, começamos a contar piadas de gaúcho. Cada vez mais fortes. Até que outro integrante revelou, para surpresa de todos, que ele era o Gaúcho. Após milisegundos de costrangimento, voltamos a contar mais piadas de gaúcho.

Fomos então à Cachoeira Véu da Noiva. 30m de altura. Mais registros fotográficos oficiais. O frio aliado à altura da cachoeira fez um dos nossos companheiros que normalmente anuncia que vai fazer xixi declarando “levarei o gigante para chorar”, assumir que o dito cujo naquele momento estava mais para anão.

Descemos mais ainda por uma trilha muito íngreme até a base da cachoeira, onde um dos integrantes resolveu tomar o seu banho anual. Depois de 48 minutos cronometrados, resolvemos continuar a caminhada morro abaixo.

Andamos uns 200m quando conseguimos visualizar o caminho de volta. Uma estrada longa, distante e inclinada. Foi a visão do inferno. Fizemos então um plebiscito, cujo resultado foi unânime, de voltarmos o mais rápido o possível às motos antes que alguém tivesse a idéia de andarmos mais.

A volta até a cachoeira foi mais ou menos tranqüila. Mas depois, ao subirmos o barranco enlameado de 30m de altura, quase tivemos algumas perdas. Um de nossos colegas teve perda de visão ocasionada pela vertigem, outro teve uma severa taquicardia, o terceiro – que não havia tomado o banho anual – começou a exalar odores proporcionais à tarefa em tela. Nada mal para os somados 245 anos que estavam subindo por ali.

45 minutos após a chegada ao topo da cachoeira, as pessoas normalizaram as suas respirações a ponto de poderem conversar novamente. Nova deliberação para ver se o integrante que tinha tido a idéia de descer a cachoeira seria jogado lá de cima ou não. Por maioria apertada foi decidido que o rapaz seria poupado desta vez, mas não poderia dar mais palpites até o final da viagem.

A volta foi mais interessante. Já em cima das motos, com a chuva terminado, tudo indicava que seria tudo tranqüilo. 200 m depois da saída um de nós foi à lama: 0x2. Mais à frente, em uma grande subida enlameada, um dos nossos companheiros gritou: “engata a primeira e acelera!”. A técnica funcionou até a metade da subida, a partir do que as motos começaram a patinar e descer de marcha-ré. Dois tombos em 20 segundos: 0x4.

Paramos para almoçar em Bonito-PE, no único restaurante da cidade que nos aceitou sujos de lama. Para nossa surpresa, tínhamos esquecido de esperar um de nossos amigos lá em Recife, mas ele – fiel à sua palavra – foi até ali para nos encontrar.

Depois de mais chuva ainda – rumamos a Gravatá para visitar o Seu Garrafa e o seu filho Raul. Qual não foi o nosso susto quando chegamos na sua casa e o convalescente Seu Garrafa não estava. Mas logo o Raul foi explicando que ele tinha saído de moto. Seu Garrafa já está bom para andar de moto? 10×4.

No caminho para Recife tivemos mais paradas para fotos oficiais e um pouco mais de chuva, com bastante frio para quem estava encharcado. Embora não tenhamos chegado à agressões, o stress da viagem foi suficiente para que ninguém tivesse a vontade de parar para se despedir. Acredito que com o passar dos anos poderemos até, quem sabe, voltar a nos cumprimentar quando nos encontrarmos em locais públicos.

Matemática da viagem: saímos em 6 de Recife, perdemos dois valorosos companheiros nas trilhas para a cachoeira: um que foi largado no caminho por ter tido a idéia da descida da cachoeira e o outro que até agora não voltou porque não conseguiu se decidir por que roupa usar na volta. Depois ganhamos mais um rapaz perdido que nos encontrou só na volta. Somando tudo, chegamos ao resultado numérico de apenas uma baixa, número bastante aceitável. Só falta fazer o levantamento para ver quem foi.

Atenção: todos os personagens são fictícios; qualquer semelhança de fatos, lugares ou alcunhas, é mera coincidência.

————

Se esse não tivesse sido um registro fictício, teriam ido:

Bokomoko – XT660
Bráulio – XT600
França – XT600
Geraldo – Falcon
Gustavo – BWM R1100S
LLuiz – XT660
Magnani – Falcon

————

Fotos

Chegada na base:

Depois de uma estradinha das boas:

Visual do Nordeste, em plena época da seca:

Cachoeira vista de cima:

Pessoal no topo da cachoeira (Fábio, LLuiz, Bráulio, Geraldo, Bokomoko e França):

Cachoeira vista de baixo, com pouca água nesta época:

Foto oficial da região de Bonito-PE:

Um motoqueiro em seu habitat natural:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *