Toque de Midas


© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: Ficções em Duas Rodas

TOQUE DE MIDAS
Fábio Magnani
[publicado originalmente em junho de 2012]

Midas Touch (Toque de Midas, 2002) é uma estória de motos que se passa no mundo das lésbicas. No livro elas são poderosas e totalmente independentes dos homens. Se bem que independente talvez seja um termo um pouco fraco, pois ali os homens praticamente não existem, sendo totalmente irrelevantes. É um livro de aventura, sobre pessoas que buscam uma razão para viver, que querem encontrar um grupo em que possam se sentir seguras e, se der, achar uma paixão para a vida toda.

A personagem principal é Sandra Tate, uma mulher de 37 anos. Mesmo vindo de uma família muito pobre, ela se transformou em um arquiteta famosa e milionária. Foi casada por oito anos. Sua mulher, Carol, que vinha de família tradicional mas decadente, só pensava em luxo e beleza. Não gostava de fazer amor com Sandra Tate e a traía com qualquer moça bonita que aparecesse.

Quando Sandra descobre que Carol a trai, tem uma crise nervosa. Os médicos mandam que ela tire umas férias. Em um momento de impulsividade, Sandra compra uma moto e sai em busca de sua mãe desconhecida. No decorrer do livro, ao mesmo tempo que Sandra aprende a andar de moto, também passa a confiar de novo nas outras mulheres, a se soltar na cama e a aproveitar a vida.

Além do motoqueirismo, a estória trata de vários outros temas. Ao longo do livro, Sandra Tate deixa de pensar só no trabalho e começa a dar valor para atividades humanas, como curtir uma comida bem feita e conversar com as amigas na varanda da casa. Ela então aceita que tanto para andar de moto quanto para fazer amor é preciso se soltar. Não há preconceito sobre o tipo certo de relacionamento. Às vezes elas só aproveitam o prazer, às vezes elas são tomadas pelo amor eterno. Não há lição de moral.

As lésbicas sempre foram retratadas no mundo das motos, desde a época das pulp fictions (e.g. The Go Girls). Só que as lésbicas desses livros antigos eram super esteriotipadas. Pior ainda, no final sempre morriam ou se “salvavam” da homosexualidade. A diferença é que agora elas finalmente podem ser felizes quando acaba a estória.

No mais, o livro não é lá muito bem escrito. Mas é divertido e rápido. O importante mesmo é a contribuição que esse tipo de estória traz para a representação do motoqueirismo. É preciso sair dessa caracterização única dos motoqueiros e passar a representar a verdade, de que todo mundo anda de moto: velhos, jovens, homens, mulheres, heteros, gays, ricos, pobres, quem anda por amor, quem anda por necessidade, motos grandes, motos pequenas, nas cidades, nas trilhas, nas estradas, todo dia, só nos finais de semana, nas férias, desde o berço, começando depois de maduro, rápido, devagar, de forma suicida, com cuidado, sozinho, em grupo, com garupa, libertários, conservadores, inteligentes, burros, gordos e magros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *