Pedra da Boca-RN

02.05.2009 

Passeio do 1o de Maio – Pedra da Boca – PB/RN
  

Agora chegou a hora de parar com a brincadeira. O nome do meu filho que chega no final do mês não vai ser Fabinho, vai ser Dante. Minha primeira filha tem o nome de uma grande personagem da literatura – Gabriela (Cravo e Canela) – e agora o outro o nome de um grande escritor e crítico social – Dante (Alighieri). Pura coincidência, já que os nomes foram escolhidos pela sonoridade.

Como companhia de Recife estava o França, mas no segundo dia de viagem encontraríamos também o Denny e a Moara lá na Pedra da Boca. Saímos de Recife na sexta-feira lá pelas 10:00. Só uma esticadinha na estrada e paramos para tomar café no Recanto do Matuto. Tapioca, café, limonada, macaxeira e carne-de-sol. Bom… mas… não é muito a minha praia. Uma das únicas coisas que estranho quando viajo para o interior do nordeste é o café-da-manhã. Em alguns lugares é praticamente impossível conseguir um simples misto-quente ou pão com ovo. Adoro escondidinho, mas não no café-da-manhã.

De Paudalho-PE fomos para a serrinha lá nas bandas de Umbuzeiro-PE. Como sempre uma delícia de estrada, tanto para pilotar quanto para aproveitar o visual da natureza. Como brinde, passamos por várias cidadezinhas típicas e sítios que ponteavam o horizonte. Como os dois estavam interessados em fotografia, paramos várias vezes para fotos. Pela primeira vez eu viajei com duas câmeras. Uma Sony W70 que uso no pescoço para fotos rápidas em cima da moto e uma Sony H10 no bauleto.

Passamos por Campina Grande-PB – continuando no nosso rumo ao norte – até Remígio-PB. Lá as nuvens começaram a nos cercar. Capa de chuva? Estava no bauleto, mas só seria usada quando realmente fosse necessário. Taí um bom exemplo do que é planejamento libertário para mim: levar capa de chuva, mas só decidir se vou usá-la ou tomar chuva na hora. Em Barra de Santa Rosa-PB a chuva começou a cair. Tudo bem, só uma molhadinha que vai secar com o vento. Foi aumentando… aumentando… aumentando, que quando pensamos em colocar a capa não tinha mais jeito. Minha jaqueta e botas são impermeáveis, mas não a minha calça. O que é a mesma coisa que dizer que a bota também não é, porque a água começa a entrar na bota por cima.

Em Picuí-PB, lá pelas 17:30, o dia já estava completamente escuro. A chuva muito forte. Estrada com buracos. Enxurradas invadiam a pista. Visibilidade quase zero. Passamos a andar a 40 km/h. Tudo bem. É claro que eu tenho medo dessas situações, fico preocupado com a moto, em cair, me compadeço das pessoas que perdem alguma coisa. Mas não posso negar que saio renovado. Acredito que um dos componentes de uma viagem de moto são esses pequenos desafios pessoais que vão sendo vencidos.

Chegando em Acari-RN – onde tínhamos resolvido dormir para aproveitar o Açude de Gargalheiras no outro dia -, descobrimos que todos os hotéis estavam lotados por causa do festival dos pescadores. Estávamos molhados, com fome e cansados. Chovia muito ainda. Mas não havia alternativa a não ser irmos até Currais Novos-RN procurar um hotel. Todos os leitos estavam ocupados também. A próxima cidade seria Santa Cruz-RN. Mas ao sairmos, um cliente do hotel veio nos dizer que estava desistindo do quarto. Pronto! Já tínhamos lugar para dormir. Até me senti muito chic – como algum rider dando a volta ao mundo – quando o cara ofereceu que guardássemos as motos dentro do restaurante do hotel. Mas infelizmente a moto não passava na porta. Mas o que vale é a intenção, pois agora já posso contar a história. O resto da noite foi prosa, conversa e cerveja.

No outro dia de manhã acordei logo cedo para voltar ao Açude de Gargalheiras-RN. Esse é um dos lugares mais bonitos do nordeste. Nas outras vezes que estive lá não estava vertendo, mas desta vez era muita água. Foi muito legal estar ali na hora em que o sol nascia.

Outro ponto alto da manhã foi andar de moto no trecho entre Acari-RN e Currais Novos-RN. Essa é uma das estradas mais gostosas do Brasil.

De lá seguimos para Passa e Fica-RN encontrar o Denny/Moara e conhecer a Pedra da Boca. O caminho é uma estradinha de terra de cerca de 5 km. Algumas poças, algumas valetas, mas andando devagar é tranquilo.

O Parque da Pedra da Boca é lindo. Cheio de formações rochosas, caminhos e matinhas. Fizemos uma passeio à pé com o Seu Tico, que conhece tudo por lá. Andamos no mato, subimos pedras, nos arrastamos em grutas. Uma experiência muito legal. Só dava uma pena porque aquele passeio era só um pedacinho do que poderíamos aproveitar se passássemos mais tempo. Mais pena ainda que o Denny e a Moara tinham horário para ir embora e então não conseguimos aproveitar tanto quanto queríamos a companhia deles. O Denny é um dos meus grandes companheiros de passeios, daqueles com os quais você fica impressionado em como  pode haver tanta afinidade com uma pessoa que você vê tão pouco.

Não faltou também o clássico banho de açude, com um enxame de piabas tentando nos devorar. Ainda bem que não eram filhotes de piranhas!

No final da tarde, já nos preparando para a volta, um rapaz veio perguntar se éramos de Recife. Era o Dago, que também é de Recife e tem uma XT660. Ele começou a falar que era escalador. Na realidade, quase todos  que estavam acampando ali era escaladores. Ouvimos um monte de histórias, técnicas e brincadeiras. É muito bom estar entre pessoas que fazem o que gostam e compartilham esse gosto. Entre os motociclistas às vezes também é assim.

No último dia, madruguei de novo. Queria passar de novo pela subida de Areia-PB. Na ida de Passa e Fica-RN até Alagoa Grande-PB, dá para ver um conjunto de morros à direita, que vão acompanhando a estrada por todo o caminho. Chegando perto de Areia-PB a estrada sobe aquela serra em poucos quilometros. Um visual fantástico em um caminho desafiador. O guidon não fica reto em nenhum instante da subida. São S’s fechados o tempo todo. De lá segui para Arara-PB onde parei para comer alguma coisa. Ah… se por um lado eu reclamo do café-da-manhã com carne e macaxeira, por outro lado eu adoro parar em uma vendinha do interior para comer um pedaço de bolo, uma fatia de queijo manteiga e um copo de café.

De Araras-PB, sem pretensão nenhuma, resolvi voltar para Passa e Fica-RN passando por Cacimba de Dentro-PB. Que surpresa ótima. A estrada vai serpenteando aquela serra que tinha me acompanhado na ida. Os S’s são bem suaves, mas o tempo todo você vê a planície lá em baixo. Lindo, lindo, lindo.

De Passa e Fica-RN, voltamos para Recife-PE. Muita chuva e movimento da volta do feriado. Mas como recompensa comemos um camarão à moda da casa no Buraco da Gia, lá em Goiana-PE.

Fim-de-semana perfeito. Visuais, amizades antigas e novas. Mas para mim a parte mais significativa do passeio foi – como sempre – os momentos em que estava em cima da minha moto. Só quem anda de moto sabe que não dá para explicar o que se sente ali, porque os sentidos físicos causam emoções em uma espécie de ligação direta, sem passar pelo consciente.

Fotos:

Mapa:

Estrada entre Lagoa do Carro-PE e Limoeiro-PE:

Próximo a Umbuzeiro-PE:
Açude de Gargalheiras-RN:

 

França, Moara e Denny:

Parque da Pedra da Boca-PB/RN:

Festejo religioso em um Vilarejo pertencente a Passa e Fica-RN:

Passa e Fica-RN:

Entre Campo de Santana-PB e Pirpirituba-PB:

Próximo a Cacimba de Dentro-PB:

Fotos tiradas pelo Denny

 

14-15.11.2009

Faltando 6 semanas para a partida ao Atacama, demos um pulo até a Pedra da Boca. Desta vez o passeio tinha várias motivações: rever os amigos Pebas antes da viagem, aliviar a tensão causada pela espera, testar alguns equipamentos da moto e estreitar os laços. Fomos em quatro amigos (da esquerda para a direita): Bacanex (João Pessoa-PB), eu (Recife-PE), Wagner (Recife-PE) e Denny (Campina Grande-PB). O parque é chamado de Pedra da Boca por causa daquela abertura na pedra que aparece ao fundo da imagem abaixo.

A Pedra da Boca é um parque que fica na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte. O guia residente é o seu Tico, uma grande figura de 52 anos e que percorre a região desde os 12. O lugar é um misto de fazenda, mata, caatinga e floresta de formações rochosas. Eu já tinha passado na Pedra da Boca em maio deste ano, mas quis voltar porque fiquei com muita vontade de fazer uma escalada. Ali está um lugar onde você se sente em casa. Tem passeio para todos: escaladas leves, escaladas profissionais, pedaladas, rapel, caminhadas na mata etc. Tem até um açude para quem quiser se refrescar. A base é a casa do seu Tico, que também funciona como restaurante e camping. Nós ficamos em uma pousada em Passa e Fica-RN, apenas 2 km dali por uma estrada de terra.

Como é tradicional nesses lugares com muitas formações rochosas, cada pedra tem o seu nome: Pedra da Boca, Pedra da Santa, Pedra do Carneiro, Pedra do Coração etc.

Chegando lá rumamos para a Pedra do Carneiro, para fazer a escalada. É uma pedra de 50m de altura, nível 3. O instrutor Júlio subiu primeiro para prender a corda. Eu estava esperando algo bem mais baixo e menos vertical. Quando vi a pedra, para não perder a coragem, simplesmente parei de pensar no assunto. Fiquei conversando com o pessoal até o instrutor dizer que tinha chegado a minha hora. Os equipamentos são uma sapatilha, um capacete e um cinturão para prender a corda. Embora você esteja o tempo todo preso à corda, a subida é feita com os pés e as mãos mesmo, como se estivesse sozinho. O trecho todo levou 15 minutos para ser conquistado. Isso segundo o pessoal, porque para quem está ali na pedra, preso somente pelas pontas dos dedos, não há noção de tempo. Você não tem idéia se levou 2 minutos ou 2 horas. Interessante. O legal também é que não cansa tanto, nem dá medo. O tempo todo você fica concentrado em onde vai colocar os pés e as mãos para seguir em frente. Tudo fica completamente claro. Não há espaço para pensamentos de fora. Você fica focado nos dedos dos pés e das mãos, com o único objetivo de vencer mais 30 cm. É um estado mental fantástico, onde o presente consegue anular o passado e suspender o futuro.

O pessoal preferiu fazer um rapel ao invés da escalada. Eu que já tinha feito rapel na Cachoeira de Bonito-PE, preferi não fazer desta vez. É que não quis misturar a sensação libertadora da escalada com os quase que exclusivos jorros de adrenalina do rapel. São duas atividades completamente diferentes. Na escalada você está controlando tudo, a menos que caia, é claro. Já no rapel quem te segura não são seus dedos, mas a corda. Na escalada você precisa mais habilidade, no rapel de mais coragem. A escalada é uma atividade de conquista e paciência, o rapel é mais de ação. Os dois são fantásticos, mas para mim aquele dia era da escalada.

No final da tarde subimos a Pedra da Santa para ver o pôr-do-sol. De lá dá para ver todo o parque.

O sol estava lindo, exatamente como todos os dias. Estar em um local assim faz você pensar no que realmente é importante na vida. Que não há tempo a perder com detalhes insignificantes. Mas… o que é que é importante? Por mais que seja batido por todos, em todos os cartões de natal, em todas as despedidas, em todas as chegadas, em todos os programas de TV, é sempre o mesmo: amizade, amor, família, saúde, paixão, desejo, paz, tranqüilidade, curiosidade, sapiência e harmonia. Não há como fugir desses clichês. Talvez por não serem clichês.

A descida, já no escuro, foi muito engraçada. Escorregões, sons estranhos, casas mal-assombradas, sombras e um túmulo no meio da mata. Se alguém estivesse sozinho provavelmente teria morrido do coração nos primeiros 5 minutos. Mas já que estávamos em grupo, tudo era motivo para piada.

No dia seguinte, antes de voltarmos para casa, passamos ainda pela Praia da Pipa-RN para tirar umas fotos. Uma praia não é o melhor lugar do mundo para ir todo vestido para andar de moto. Mas vale a pensa suar as bicas para tirar umas fotos bonitas.

Andando mais um pouquinho para o sul, chega-se ao chapadão, uma falésia com cor que contrasta perfeitamente com o mar ao fundo.

Ao invés de voltarmos pela BR-101, preferimos vir pelo interior. Andamos um pouco mais, mas as estradas com pouco movimento fizeram da tarde de domingo mais um ponto alto do passeio. Se tivéssemos voltado pela 101 teríamos, talvez, percebido a volta como uma obrigação. Gostamos até dos 20 km perto de Araçoiaba-PE, cheios de buracos e com uma nuvem constante de poeira levantada pelos treminhões. Parecia que já estávamos na areia do Atacama.

No final das contas, o  passeio foi de 700 quilômetros, em dois dias. Chuva e sol, estradas desertas e movimentadas, curvas e longa retas, subidas de montanhas, descidas de montanhas, gargalhadas para a morte, o sol acompanhando as motos na estrada, o sol indo dormir bem calmamente, a pequenez de um ressalto que suporta o corpo na escalada, a imensidão do horizonte do alto de um monte, lembranças do passado, sonhos com o futuro e conseguir parar o tempo para viver o presente. O que mais alguém pode querer? Bem… 45 dias ao invés de 2 já seriam um bom começo. Ah… já que perguntaram, a presença, mesmo que temporária, de uma grande paixão, também vai bem!

 

20-21.03.2010

No final de semana fomos até o Parque Estadual da Pedra da Boca, que fica bem na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte. A cidade tem um nome bem diferente: Passa e Fica.

Desta vez a moto ficou em casa porque queríamos levar a trupe toda: Fábio, Renata, Gabriela, Dante e a babá do Dante. Para mim foi a terceira vez na Pedra da Boca, para os outros a primeira.

A ida foi uma experiência nova. Fomos de carro 1.000cc, abarrotados com as coisas do Dante: colchão, carrinho, fraldas, comida, panela e brinquedos. Claro que o brinquedo predileto do Dante não é um bichinho pequenino, mas sim um caminhão de plástico imenso. A bagagem dos outros integrantes da viagem foi encaixada onde dava, debaixo do banco ou entre os nossos pés.

Fomos com um casal de amigos aqui de Recife, que nos acompanharam em sua moto. Lá nos encontramos com mais quatro amigos de João Pessoa-PB.

O parque leva esse nome porque uma das pedras principais tem um grande rasgo, lembrando uma boca sorridente. O acesso é bem fácil, por uma estrada de terra-batida com uns 2 km. O ponto de apoio do parque é a casa do seu Tico, que serve como saída dos passeios, descanso e restaurante. O seu Tico, morador desde sempre da região, é o alegre guia das caminhadas por todo o parque. Há também o Júlio, que ministra as aulas de rapel e escalada. Quem não quer acampar lá no parque tem como opção dormir na pousada da Neide, que fica na estrada de asfalto.

Chegamos no sábado um pouco antes do almoço. O Dante ficou com a babá na pousada – que parece uma chácara -, enquanto fomos até o parque. Lá fizemos várias caminhadas. A Gabriela se esbaldou tanto no sábado quanto no domingo. Fez caminhadas, subiu em pedras, balançou-se em cipós, bebeu água da fonte, arrastou-se por grutas, ficou no meio de uma revoada de morcegos, subiu uma pedra de 40 metros de altura, viu uma cobra e aprendeu um montão sobre sobrevivência na selva. Na volta, ainda fizemos uma boa caminhada no escuro até a pousada.

Em nenhum momento ela reclamou do cansaço, medo ou pequenos arranhões. Mostrou muita responsabilidade e, ao mesmo tempo, iniciativa nas caminhadas. Agora fiquei bem mais seguro em levá-la nas próximas aventuras.

Ela só ficou triste porque não pôde fazer o rapel, mas foi por minha culpa. É que no sábado eu não tinha deixado ela fazer porque achei inseguro ela depender de apenas um pino para descer. Falei com o Júlio para nos amarrar em cordas diferentes no domingo pela manhã. Só que bem na hora que íamos fazer o rapel começou a chover, o que impossibilitou a subida na pedra. Fica para a próxima.

O Dante também adorou ficar na pousada. Sagüis, bezerros e um papagaio tagarela. Mas o que ele mais gostou mesmo foi o banho de tanque e dormir no chão forrado. Logo, logo, ele também vai acompanhar a Gabriela nas caminhadas pelo mato.

Bem, foi um passeio diferente, onde eu e a Renata fomos apenas coadjuvantes. Mas valeu a pena ver a Gabriela e o Dante aproveitando um pouco do que eu e a Renata sempre fazemos.

Gabriela, Renata e a Pedra da Boca:

Gabriela, a aventureira:

Finha (babá) e Dante:

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