Sertão de Alagoas e Pernambuco

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Livro: De Motoca na Estrada

SERTÃO DE ALAGOAS E PERNAMBUCO
Fábio Magnani
[publicado originalmente em março de 2009]

Relato do passeio em Alagoas e Pernambuco para teste da moto e equipamentos. – 15/03/2009 (domingo)

Já vai fazer um mês que comprei a XT e ainda não tinha pegado estrada com ela. A razão principal foi falta de tempo, mas não nego que gostei porque pude acostumar um pouco mais com ela. Contando o tempo da Falcon, lá se vão quase três meses sem pegar a estrada – o último passeio tinha sido em dezembro de 2008 para o Lajedo do Pai Mateus.

A viagem de hoje teve três objetivos principais: andar de moto (já bastava), treinar visando o Atacama e testar acessórios/vestimenta. Um fato legal de fazer esse teste nesta época era ver como é o comportamento da roupa impermeável em baixo de um solão de rachar.

Saí de Recife com o nascer-do-sol. O dia estava bem fresco, o que foi um pouco decepcionante para o teste do calor. Mas logo nos primeiros 50 km começaram as dores: o protetor de coluna forçava as minhas costas e o alongador de guidão fazia meus braços doerem. Sem contar a mangueira do camelbak que insistia em ficar voando para fora do capacete. Mas o mais cansativo era a imensa vibração acima dos 120 km/h, que fazia minhas mãos adormecerem. Para arrematar a desgraça, toda hora que olhava para o retrovisor achava que vinha um carro para cima de mim. É que a minha outra jaqueta era toda preta e minha mente confundia as listas da jaqueta nova quando refletiam no espelho.

Parecia que teria que voltar mais cedo para casa, mas com o tempo as coisas foram se resolvendo. Primeiro consegui um jeito para prender a mangueira do camelbak dentro do capacete. Depois percebi que se minhas costas estivessem na posição correta, então o protetor não a machucaria. Isto é, o protetor não coloca suas costas na posição correta, mas te avisa quando você está torto. Vi, ainda, que meus braços doíam não por causa do alongador, mas porque estava fazendo força para me segurar no guidon. Relaxei os braços. Instantaneamente as dores passaram e a vibração passou a ser suportável.

No final das contas, todo o infortúnio era causado pela falta de costume. Assim que relaxei, os equipamentos começaram a fazer o seu serviço. O protetor de coluna descansa as costas e o alongador de guidon descansa os braços. A joelheira já é velha conhecida, portando já não noto mais a sua presença. O protetor de pescoço não cansa nem descansa, passa meio despercebido. Talvez com o tempo ele sirva para descansar um pouco o peso do capacete, mas não notei nada hoje. Mas certamente ele fará o seu serviço em uma queda. É para isso que está lá.

Lá pelas 09:00, quando rumava para o oeste, o calor chegou. Hoje provavelmente foi o dia mais quente do milênio e eu estava no meio do sertão alagoano. É a velha história: “Tenha cuidado com o que deseja, pois você pode conseguir.”. Comecei a suar muito por baixo da roupa impermeável (jaqueta, luva, calça e bota). Daí vi a diferença que faz usar um camelbak. É uma maravilha poder beber água enquanto se pilota no calor. Cada nova tragada revigora a viagem.

O calor quase insuportável em cima da moto se tornava infernal quando eu parava. Tanto em Arapiraca-AL quanto em Garanhuns-PE, assim que desci da moto comecei a transpirar literalmente em bicas. Deu até vergonha no restaurante. Em Iati-PE resolvi tirar a luva impermeável, substituindo pela de couro antiga. Não que ela estivesse incomodando, mas dá muito trabalho ficar colocando e tirando aquela luva com a mão suada.

A XT660 é parecida com a Falcon em alguns detalhes, mas diferente em outros. Parece que é a mesma moto, mas com uma velocidade de conforto maior. Apenas como exemplo hipotético, vamos supor que fosse permitido andar a 150 km/h em nossas estradas. Enquanto em uma reta a velocidade de conforto na Falcon seria de 120 km/h, na XT660 a velocidade seria 140 km/h. Já em uma curva que faria a 100 km/h na Falcon, faria confortavelmente na XT660 a 110 km/h. Mas é claro que esse é apenas um exemplo hipotético, porque não podemos andar acima de 100 km/h. A minha velocidade média na Falcon (incluindo paradas) sempre foi de 75 km/h. Na viagem de hoje (descontando o almoço), a velocidade foi de 85 km/h.

Achei que a XT660 tem uma suspensão boa para grandes obstáculos, mas é dura para pequenas oscilações. O banco não é tão ruim como falam. Depois de um pequeno incômodo no início da viagem, andei tranquilamente o restante.

Em Garanhuns-PE encontrei o Emano de João Pessoa-PB. Tínhamos combinado um almoço por lá. Eu já tinha andado meus 600 km e o Emano os seus 350 km. Cheguei muito cansado ali. Acredito que tenha sido a quilometragem feita em baixo do sol forte, com três paradas para abastecimento, duas delas sem descer da moto e a terceira com apenas 10 minutos de descanso. Mas logo depois do almoço eu já estava inteiro de novo. Isso é uma coisa interessante: normalmente o almoço me dá um sono muito forte, por isso evito almoçar quando não posso fazer uma pestana. Mas às vezes, na estrada, o almoço é extremamente revigorante. Não sei o porquê, mas foi o caso hoje.

Em Recife-PE, depois de 850 km rodados, me despedi do Emano, que ainda teria que voltar para João Pessoa-PB, completando 700 km. Ao contrário do que tinha acontecido em Garanhuns-PE, cheguei bem em casa. Provavelmente porque essa perna tinha sido menor, assim como o calor. Estaria pronto para outra dessas amanhã. Ótimo prospecto para a viagem ao Atacama, já que quero fazer a ida (no Brasil) um pouco mais rápido.

Fotos

Fábio na chegada:

Emano em Garanhuns:

Motos, na clássica foto da Serra das Russas:

Fábio na Serra das Russas:

Detalhe do protetor de coluna:

Detalhe do camelbak e do protetor de pescoço:

Avaliação:

Moto: gostei da aceleração, dirigibilidade e velocidade de cruzeiro. A vibração é um pouco alta e a moto é um pouco dura para pequenas oscilações. O banco é aceitável. Não penso agora em trocar por um Erê, pois o ganho em conforto não compensaria a perda de mobilidade. Talvez troque por causa da Renata, mas é pouco provável. Gostei da XT ter um relógio e do sistema de 3 odômetros dela.

Mala de tanque: já faz tempo que sento falta de um lugarzinho para colocar um mapa no tanque. Mas será que vale a pena colocar mais peso na frente, perder um pouco da dirigibilidade e tomar uma multa? Talvez seja melhor pensar em um sistema diferente só para fixar o mapa.

Jaqueta impermeável: confortável e quente. Vamos ver na chuva.

Luva impermeável: difícil de colocar com a mão suada, provavelmente vou usar só na chuva, levando outra de couro para os dias ensolarados.

Calça impermeável: muito quente. Nos dias muito ensolarados vou usar calça jeans. Vamos ver na chuva.

Bota: confortável. Vamos ver na chuva.

Joelheira: confortável.

Protetor de pescoço: confortável. Limita um pouco o movimento para virar a cabeça para trás. Isso é perigoso quando se sai de um estacionamento.

Protetor de coluna: confortável e quente. Força manter uma postura correta.

Alongador de guidon: mantém os braços relaxados.

Camelbak: uma maravilha. Não saio mais de casa sem ele.

Tanque: para andar em lugares como o sertão, vale a pena andar com um tanque maior. Com o tanque original, você tem que parar a cada 170 km, para sobrar uma segurança de 90 km para encontrar outro posto (para um consumo de 17 km/k). Com um tanque de 22 litros, seria possível fazer cada perna com 270 km, sobrando ainda 100 km de segurança. Muito provavelmente vou comprar o Gili 22 litros.

GPS: não levei nesta viagem. O software que veio com ele é muito bom para cidades, mas não para o que eu quero: registrar o caminho que eu fiz, bússula, nascimento do sol etc. Já consegui desbloquear o aparelho. Agora é só instalar os outros programas.

Passeio: passar o dia andando de moto no sertão com a companhia de um amigão = 10!

Números:

Recife-PE: 05:10 – 0 km
Palmares-PE: 06:45 – 122 km – consumo 19,7 km/l – vel. média 77 km/h
Arapiraca-AL: 09:15 – 234 km – 20.9 km/l – vel. média 93,6 km/h – 10 min. descanso
Iati-PE: 11:45 – 206 km – 17,9 km/k – vel. média 88,3 km/h
Garanhuns-PE – 12:20 – 53 km – vel. média 90,8 km/h – 1:35 almoço
[10 minutos fotos Gravatá] Pombos-PE: 15:50 – 169 km – 18,3 km/litro – vel. média 81,1 km/h – 10 min. descanso
Recife-PE: 16:45 – 62 km – vel. média 83,7 km/h

Total:
846 km
Tempo parado: 2:05
Tempo na estrada: 9:30 – vel. média (descontando todas as paradas): 89 km/h
Tempo na estrada: vel. média 10:00 (descontando o almoço): 84,6 km/h
Tempo total: 11:35 – vel. média (incluindo paradas): 73 km/h
Consumo: 44,1 litros
Consumo médio: 19,2 km/l

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