© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: Motoqueiros Famosos
Fábio Magnani
[publicado originalmente em dezembro de 2010]
Talvez Steve McQueen (1930-1980) seja o maior astro do cinema de todos os tempos. Seus filmes agradavam aos homens por causa das cenas de coragem e às mulheres pela charmosa rebeldia. Só que por mais famoso que fosse Steve não era um cara feliz. Isso porque para se defender de uma infância cruel nas ruas, tinha criado uma personalidade agressiva. Só era suportado pelos diretores e colegas porque sua presença na tela trazia milhões de dólares para todos.
T. E. Lawrence (1888-1935) foi um dos maiores homens do século XX. Como um mero oficial do exército inglês, comandou praticamente sozinho a revolta árabe contra os turcos na Primeira Guerra Mundial. Além de ser um homem de ação, T. E. Lawrence também foi um grande pensador. Sua maior obra é o livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”. Ele também não era um cara feliz, porque provocava o afastamento dos outros ao fazer o que devia ser feito de forma muito intensa, passando por cima de quem fosse necessário. Seus comandantes só o aturavam porque era o único europeu que os árabes ouviam. Os seus tempos de guerra foram imortalizados no filme “Lawrence da Arábia”.
Steve McQueen e T.E. Lawrence têm muitos traços em comum. Eram solitários e brilhantes. Mas o que une mesmo esses dois homens é o amor pelas motocicletas. De forma muito parecida, os dois só conseguiam encontrar momentos de paz quando corriam com suas motos em altíssima velocidade. Para algumas pessoas os momentos perfeitos só podem ser alcançados pela meditação. Mas para os dois – e para todos nós que andamos de moto – esses momentos também podem ocorrer quando pilotamos nossas máquinas.
T.E. Lawrence era fã incondicional das Brough Superiors, tendo comprado oito entre 1922 e 1935. Ele se referia a essas motos como “Boanerges”, que significa “filhos do trovão”. Os últimos modelos das Brough Superiors que ele possuiu podiam superar os 150 km/h! Já Steve McQueen, que era muito rico, teve mais de 200 motocicletas. Ele mesmo fazia questão de manter as suas máquinas em perfeitas condições, raramente chamando um mecânico. Seu filho Chad conta que, ao chegarem de um dia fazendo trilha, Steve lavava, engraxava e ajustava a moto para que ficasse pronta para a próxima semana. Só depois disso iriam jantar. Ironicamente, nos últimos anos de sua vida, McQueen preferia passar despercebido. Então usava uma Indian Chief Chopper 1947, com a pintura toda descascada.
Há uma série de outras pessoas que, por meio do motociclismo, nos inspiram da mesma forma. Quem pode se esquecer de quando Evel Knievel (1938-2007) aparecia na TV saltando sobre uma fila interminável de carros, arriscando a sua vida por um momento especial? Quem não ficou arrepiado ao assistir a história real de Burt Munro (1899-1978) batendo o recorde de velocidade no filme “Desafiando os Limites”? Quem não fica orgulhoso ao saber que Robert Pirsig (nascido em 1928) recebeu a sua inspiração durante uma viagem de moto? Para quem não se lembra, Pirsig escreveu o livro de filosofia mais lido do século passado, “Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas”.
Entre todas essas motos, a Indian do Neozelandês Burt Munro é a mais especial. Ele a comprou em 1920. Passou os próximos 47 anos aprimorando a mesma máquina, alterando a posição da vela, instalando novos cames, usinando cilindros e modificando o quadro. Chegou ao ponto de fundir em sua própria casa os novos pistões. Essas mudanças multiplicaram a potência original em seis vezes. Em 1967, Munro bateu o recorde de velocidade em Bonneville com essa moto, pilotando a mais de 300 km/h!
No verão de 2006, o fotográfo e escritor Basem Wasef estava determinado a produzir um livro que nos trouxesse essa mesma inspiração, com a história de grandes homens e suas motos lendárias. Na companhia de sua mulher, encheram o Porsche 911 SC 1983 com equipamentos de fotografia, rabiscaram no papel algumas idéias e pegaram a estrada na busca de pistas. O resultado é o livro “Legendary Motorcycles”. Infelizmente, o livro ainda não foi traduzido para o português. Mas vale a pena mesmo assim para conhecer um pouco mais sobre Steve McQueen, T.E. Lawrence, Burt Munro, Robert Pirsig, Evel Knievel, James Dean, Wayne Rainey, Kenny Roberts, Mike Hailwood e muitos outros. São 26 capítulos independentes, mais ou menos de seis páginas cada, cheio de fotos coloridas e histórias imortais. É um daqueles livros para ficar só contemplando, ler devagarzinho sem qualquer senso de ordem e depois sonhar com o próximo final de semana.