Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em maio de 2010]
Prólogo
Cheguei da Viagem ao Atacama no dia 01 de fevereiro de 2010. Passados 100 dias, chegou a hora de começar a contar o que vivi. Isso é bastante tempo quando penso que normalmente – quando chego de uma viagem – não consigo baixar o batimento cardíaco enquanto não coloco tudo no papel. Mas desta vez foi diferente, por várias razões. Uma viagem tão longa, por mais planejada que tenha sido, envolve um certo acúmulo de trabalho que deve ser compensado na volta. Eu queria desta vez escrever algo com mais calma, sem a pressão autoimposta de contar tudo o mais rápido possível. Desejava também ter mais tempo para pensar na melhor estrutura do texto; seria melhor seguir a ordem cronológica, juntar os causos por temas, criar uma ficção em cima dos fatos reais ou simplesmente escrever na ordem que aparecessem na cabeça? Alguns detalhes insignificantes da viagem, como o cansaço físico, às vezes ficam muito exagerados assim que se chega; só com o tempo é que voltam a ser o que são: detalhes. Mas o motivo mais importante da demora por relatar a viagem é, sem dúvida alguma, a minha espera proposital para compreender melhor o impacto da viagem na minha vida. Aprendi muita coisa, como o valor da amizade, trabalhar em um time, deixar de lado toda e qualquer espécie de peso desnecessário, ter objetividade e valorizar o que realmente é importante.
Nesses últimos tempos, o blog Equilíbrio em Duas Rodas ganhou bastante maturidade com quatro categorias bem definidas: Livros, Relatos, Ficção e Engenharia. Isso sem contar textos sobre Preparação, Hobbies e a categoria de Papo Geral. O número de visitas diárias está legal, crescendo a cada dia que passa. Nunca deixo de ficar espantado com tanta gente interessada no que eu faço. Mas há coisas que precisam melhorar. Embora o número de visitantes seja grande, o número de comentários é relativamente baixo. Eu tenho pouca interação com outros blogs. Também não tenho estimulado a contento que outras pessoas colaborem. Esses pontos negativos fazem com que eu tenha um pouco de dificuldade em saber o que realmente as pessoas gostariam de ler por aqui. Mas nada que não seja esperado, pois a idéia do blog sempre foi aprender.
Mas acho que há pelo menos um ponto positivo neste isolamento. Este blog tem – por bem ou por mal – uma cara própria. E eu penso que esta nova categoria – Crônicas do Atacama – vem para contribuir mais ainda neste sentido. Pois não existe uma viagem melhor ou pior que outra, mas cada uma é diferente.
Embora tenhamos viajado em 4 amigos, não tenho o direito de tentar mostrar a impressão que os outros tiveram, que experiências viveram ou qual o impacto a viagem teve sobre suas vidas. Por isso, essas crônicas são limitadas a uma única visão. Ainda, diferentemente de outros relatos, não tentarei ser preciso nas quilometragens ou na ordem dos acontecimentos. Tentarei, sim, ser fiel ao que eu senti lá na estrada, com minha mulher, minha moto e meus amigos.
Sejam bem-vindos às Crônicas do Atacama!
—
Apresentação. A Viagem ao Atacama foi realizada em torno de janeiro de 2010. Durante 38 dias, quatro amigos – Fábio, Renata, Wagner e Geraldinho – percorreram cerca de 15.000 km em suas motos. Com saída e chegada em Pernambuco, passaram por grande parte do Brasil e conheceram a Argentina e o Chile. A história toda começa em meados de 2008 – lá no início da preparação -, mas não tem tempo para acabar, pois os reflexos continuam aparecendo a cada dia que passa. Planejamento, amizade, trabalho em time, resolução de conflitos, natureza, estrada, crescimento pessoal, aprendizado e amor pelas motocicletas. A viagem é contada em três grandes séries: Planejamento (textos escritos antes da partida), Diário da Viagem (relatos publicados durante a viagem) e Crônicas do Atacama (pós-escritos, da qual faz parte este texto). Nunca é demais dizer que esta seção não tem fim programado. Se gostar, volte de vez em quando para ver as novidades.