Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em setembro de 2008]
22.09.2008
Depois de uma série de desencontros (curso de trilha desmarcado e pessoal do ClubeXT que já tinha marcado um passeio para Serra Negra-PE), combinei com o Denny (de Campina Grande-PB) para conhecermos algumas cachoeiras lá da Paraíba. Faz um tempo que estamos fazer um passeio assim, mas estava difícil conseguir uma data.
Para aproveitar o dia, saí de Recife-PE às 05:25. Peguei a BR-101 até Goiana-PE, virei para o oeste e depois passei em Itabaiana-PB até encontrar a BR-230. Cheguei em Campina Grande-PB, 205 km depois, às 07:55. O Denny já estava me esperando na rotatória.
Seguimos para Fagundes-PB em uma estrada de terra de uns 10 km que liga Campina Grande-PB a Galante-PB. Essa estrada margeia a linha de trem na qual passa o Trem do Forró na época de São João. Em Fagundes-PB fomos conhecer a famosa Pedra de Santo Antonio, que fica em uma serra de onde se vê toda a região. Dizem que quem se arrasta por baixo dessa pedra se casa em no máximo em um ano. Não acredito nessas superstições, mas só por segurança nós não passamos pela tal pedra.
Seguimos então para Lagoa Seca-PB para comprar água e racharmos um biscoito de chocolate, que seria nossa única refeição até bem mais tarde. Fomos para Matinhas-PB, de onde depois de 8 km em outra estradinha de terra chegamos até a Cachoeira do Pinga. O Denny já conhece bem esse local, tornando muito fácil andar por essas estradinhas. Por sorte havia uma casa perto da cachoeira onde pudemos deixar as nossas jaquetas. Após uma caminhada de uns 500m alcançamos a cachoeira. Estava um pouco seca. Além disso, não havia mata em volta da cachoeira, o que tornava o clima muito quente. Mais uns 100m abaixo encontramos uma outra queda, um pouquinho melhor para tomar banho. Ah… se todas as viagens de moto fossem assim: você anda algumas horas depois pára em uma cachoeira.
Voltamos pela estrada de terra e pegamos a estrada rumo a Bananeiras-PB. Existem várias entradas para a Cachoeira do Roncador. Tentamos essa de Bananeiras-PB, mas logo nos informaram que não seria possível chegar de moto até lá. Fomos então para Pirpirituba-PB. Depois de 8 km por terra chegamos até um restaurante que haviam nos indicado. Depois 383 km em 8 horas de estrada, o PF com bisteca de porco pareceu a melhor comida da minha vida. Já estava me sentindo meio desconcentrado na estrada. Engraçado isso, na estrada não dá aquela fome desesperadora que temos normalmente quando chega a hora do almoço no serviço. Não é bem fome que dá, é uma certa fraqueza e desconcentração. Eu percebo que está na hora de comer ou beber água quando começo a passar direto em quebra-molas.
Andamos mais 1 km por uma trilha – trilha mesmo, que cabia só a moto, os pedestres tendo que se apertar no mato para passarmos – até a Cachoeira do Roncador. Aqui havia bem mais água, suporte de um barzinho e a sombra de uma mata. Deixamos as motos e subimos a correnteza até chegar à cachoeira. Também não havia tanta água assim. Isso prejudica as fotos, mas é bem melhor para nadar. Nas duas cachoeiras que fomos hoje havia várias pessoas aproveitando os locais.
Às 15:30 saímos da Cachoeira. Na trilha de volta, aproveitamos para experimentar andar de moto em pé, como fazem os pilotos de enduro. Muito melhor mesmo. Você não sente a moto pulando ou rebolando. É só uma questão de parar de pensar que você vai cair a qualquer momento, por isso precisa estar sentado, com o pé próximo ao chão. Em pé, se você cair vai cair lá de cima. Depois de 8 km, sentimos um pouco de dor no pé por andarmos assim. Talvez no enduro as solas das botas sejam mais duras.
No caminho de volta à BR 230 passamos por várias cidadezinhas em festa por causa da eleição. Passeatas, carreatas, trios elétricos. Todos cantando e dançando. O que achei mais bonito são as bandeirinhas. Cada casa coloca a bandeira da cor do seu candidato. Algumas cidades são os azuis contra os amarelos, amarelos contra vermelhos, e por aí vai. Provavelmente algum sociólogo vai dizer que essas bandeiras significam que não há sigilo de voto nas pequenas cidades controladas por coronéis. Que os trio-elétricos são contratados com dinheiro sujo. De qualquer maneira, para quem só está passando, as cidades ficam muito alegres. Gostei muito de ver. Mas só passando mesmo, porque não gosto nem de música brega nem de trio elétrico.
Nos separamos na BR-230 às 17:30, já no crepúsculo. O resto da viagem eu faria sozinho à noite. Preferi arriscar o caminho por Carpina-PE para fugir da BR-101 com o todo trânsito de volta do final de semana. Essa estrada até Carpina-PE às vezes é deserta, cercada de canaviais. Mas dei sorte, porque havia alguns carros andando a 110 km/h, que eu usava como limpa-trilhos. De Carpina-PE até Recife-PE havia mais movimento, mas as ultrapassagens eram fáceis.
Andamos a maior parte do dia a 110-120 km/h, que considero a melhor velocidade de cruzeiro para as duas Falcons que usávamos. Nas estradas de terra andávamos com bastante calma, entre 30 e 50 km/h. O trecho total de terra deve ter sido de uns 50 km.
Cheguei em casa às 19:45, 14 horas, duas cachoeiras e 628 km depois.
Valeu a pena!
Roteiro:
Vista da Pedra de Santo Antonio – Fagundes-PB
Primeira queda da Cachoeira do Pinga – Matinhas-PB
Segunda queda da Cachoeira do Pinga – Matinhas-PB
Cachoeira do Roncador – Pirpirituba-PB
Fábio na Cachoeira do Roncador – Pirpirituba-PB
Denny na Cachoeira do Roncador – Pirpirituba-PB
Denny – Pirpirituba-PB
Fábio – Pirpirituba-PB