Novo no Equilíbrio em Duas Rodas? Então deixe-me apresentar rapidamente o que temos por aqui. Tudo começou em 2007…
© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Fábio Magnani
[publicado originalmente em outubro de 2021]
O que é o Equilíbrio em Duas Rodas? Bem… claro que é sobre motos, mas com algumas particularidades. Primeiro, é um projeto com uma visão bastante pessoal que envolve tanto a vivência quanto a expressão do mundo do motoqueirismo. É importante deixar claro que se trata de um ponto de vista particular, porque, em geral, as motos são vistas ou como brinquedos caros de burgueses, ou como ferramentas de trabalho dos mais pobres, ou ainda como armas para realizar crimes ou então para cometer suicídios. As revistas, os canais de vídeo, os jornais, e mesmo as conversas por aí meio que reproduzem somente essas narrativas. A verdade é que as motos são bem mais do que isso, e uma das razões da existência do Equilíbrio em Duas Rodas é provocar outras formas de ver, falar e sentir as motos.
Como é uma visão pessoal, vou ter que falar um pouco sobre mim para explicar o Equilíbrio em Duas Rodas. Eu sou motoqueiro, professor universitário, escritor e falador. Isso significa que, como um motoqueiro, eu experimento e sinto o que é rodar em uma moto, seja pilotando nas estradas, seja rodando nas ruas, ou até mesmo caminhando com um capacete e percebendo como um motoqueiro é visto pela sociedade. Já como um professor universitário que pesquisa, ensina e orienta temas relacionados às motos, eu tento compreender racionalmente como é rodar de moto, estudar tudo o que se escreve sobre elas, sistematizar esses conhecimentos, ensinar o pouco que sei, provocar pensamentos próprios em quem me ouve e inspirar que procurem seus próprios entendimentos de como é andar de moto do ponto de vista dinâmico, como são as interações das motos com o tráfego, e como elas influenciam e são influenciadas pela sociedade, cultura, capital e política. Finalmente, como escritor e falador, eu tenho a necessidade de expressar em palavras (escritas ou faladas) o que eu experiencio nas motos e o que eu reflito sobre as motos.
Em resumo, o Equilíbrio em Duas Rodas é parte vivência e parte expressão, parte motocicleta e a outra parte também. A vivência do Equilíbrio em Duas Rodas se dá nas viagens, no cotidiano, fazendo leituras, assistindo filmes, acompanhando a imprensa e fazendo pesquisa. A expressão se dá pela publicação no website do Equilíbrio em Duas Rodas, escrita de livros e apostilas, confecção de vídeos no canal do YouTube, pequenos comentários na fanpage do Facebook, fotos no Instagram, publicação de artigos em revistas acadêmicas e em congressos, palestras e entrevistas. Há ainda algumas atividades especiais que são tanto vivência quanto expressão, já que envolvem uma troca: as aulas na universidade, as orientações de pesquisa e as conversas com engenheiros, viajantes, entregadores, jornalistas, acadêmicos, mecânicos, socorristas, fisioterapeutas, lojistas, políticos, autoridades, maloqueiros e por aí vai.
Focando agora especificamente na expressão (não na vivência) enquanto escritor (não enquanto motoqueiro ou professor universitário), meus textos e vídeos podem ser categorizados em relação à minha atitude. Em alguns deles estou mais contemplativo, emotivo e reflexivo; em outros estou mais propositivo, em geral usando minha indignação para provocar uma discussão que leve a mudanças; às vezes só quero criar personagens e aventuras; já quando vou expressar nossas pesquisas, então a atitude precisa ser bem impessoal e formal; e, finalmente, muitas vezes escrevo apenas para comentar e divulgar o trabalho ou a vida de outros motoqueiros, tentando expressar mais a atitude deles do que a minha.
O projeto Equilíbrio em Duas Rodas nasceu em 2007, quando voltei a ter uma moto, comecei minhas viagens e minhas escritas. As aulas e pesquisas vieram um pouco depois, em 2010. No momento em que escrevo esta introdução estamos quase em 2022, momento em que o Equilíbrio em Duas Rodas completará 15 anos. Durante esse tempo todo, escrevi cerca de 500 textos e produzi 100 conversas em vídeos. Sendo autocomemorativo, resolvi então revisitar esse material, selecionando cerca de 200 e organizando-os no que estou chamando de Coleção Equilíbrio em Duas Rodas, que é um conjunto de dez livros. Para organizar os textos, tentei agrupá-los por temas: textos em que eu estava mais contemplativo, mais indignado, mais criativo, em que falava das minhas viagens, de outros motoqueiros, das fábricas, de assuntos mais técnicos, de histórias fictícias, das bicicletas e de coisas da universidade.
Para falar a verdade, não estou querendo apenas comemorar os 15 anos. Quero também organizar tudo para poder deixar o passado de lado (afinal, eu escrevo para poder esquecer) e dedicar os próximos anos para rodar com o Equilíbrio em Duas Rodas em algumas estradas que eu visitei pouco: publicar colaborações de amigos; me dedicar a produzir retratos, perfis e conversas com outros motoqueiros; e, claro, me aventurar em novas pesquisas, reflexões, panfletagens e ficções.
Falando um pouco do meu lado profissional, eu fiz graduação (1991) e doutorado (1996) em engenharia mecânica, ambos na UFSC. Em 1998 eu prestei concurso para professor efetivo na UFPE, onde ensino, pesquiso e oriento. Em 2021, meu memorial acadêmico foi aprovado e então fui promovido a Professor Titular, que é a mais alta classe que um professor universitário federal pode alcançar. O elogio profissional que mais gosto de receber é que sou um “engenheiro humano”, o que quer dizer que tenho preocupações físicas, técnicas, ambientais e econômicas, mas também culturais, sociais e políticas. Por outro lado, infelizmente, também sou visto como um “humano robótico”, já que sou bastante introvertido e formal nas conversas. Em outras palavras, talvez eu seja um humano apenas na teoria, mas não na prática.
Por fim, Equilíbrio em Duas Rodas – o nome desta bodega –, não significa de jeito algum que eu defenda o equilíbrio, que eu busque o equilíbrio ou que eu seja equilibrado. Muito pelo contrário. O equilíbrio sobre duas rodas só é possível por alguns momentos, e desde que você esteja em movimento. O equilíbrio em duas rodas é apenas uma ilusão, assim como são todas as certezas desta vida. O nome do projeto é, então, uma homenagem à vida: que não é segura, que não é certa e que não é estática; mas que, de um jeito ou de outro, oscilando para cá e para lá, sempre dá um jeito de ir para frente.