© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em janeiro de 2008]
De Ouro Preto-MG até Vitória-ES, a estrada continua linda. As matas vão raleando, mas as serras parecem que ficam mais altas. Se eu soubesse, teria programado uma parada aqui para fazer o passeio até o Pico da Bandeira. Continuo fazendo curvas mal. Não sei o que é. Tudo vinha bem até uns três dias atrás. Mas agora, nas curvas de descida da serra, muitas vezes me sinto pressionado por carros. O pneu Sirac 130, já com 11.000 km, está bastante gasto. Principalmente no centro. Está quadrado. Será que é porque não estou inclinando muito nas curvas? Mas mesmo assim estou curtindo a viagem de hoje, a estrada compensa minhas deficiências. Às vezes parece que o aprendizado anda para trás. Paciência, gafanhoto, paciência.
Chegando em Vitoria-ES tive a visão do inferno. Nunca vi tantos caminhões na minha vida. Tinha pensado que todos os caminhões fossem ao nordeste pela Rio-Bahia (BR-116), e não pela BR-101. Acho que me enganei.
Encontrei o Heráclito em Vitória-ES. Grande cara, muito tranqüilo. Fomos juntos, ele na sua motard, encontrar o Waltinho lá em Linhares-ES. No meio do caminho vemos um louco de moto, ao lado da pista, balançando o braço. Era o Waltinho, no arco Zen da estrada. Lugar clássico para tirar fotos. Waltinho é outro grande cara, mas atirado que o Heráclito. O maior (único) perigo que passei até agora foi lá. Deixei a máquina do outro lado da estrada para focar nós três. Pensei que a pista fosse local, sem trânsito. Coloquei o timer e saí correndo. Quase fui atropelado (bem, é exagero, mais não fui atropelado por pura sorte). Para ver que esse negócio de religião é perigoso!
Paramos em uma lanchonete para tomar um caldo de cana. Lá comentei com o Waltinho que não tinha visto o mar ainda nesta viagem, mesmo depois de 6.000 km. É para já, respondeu. Fomos até Aracruz-ES para ver o bicho. Neste trecho passei pelo melhor asfalto de toda a viagem. Bom andar em grupo novamente. Não consegui acompanhar os dois nas curvas, mas pelo menos tinha uma referência de velocidade. Andar sozinho às vezes causa isso, você não tem mais referência do que é uma velocidade segura. Às vezes anda muito rápido, às vezes muito devagar.
Tiramos umas fotos na praia. Ao ligar a moto, ouvi um barulho estranho na marcha lenta. Meio parecido com o barulho do descompressor. Sei lá, às vezes a moto faz alguns barulhos diferentes depois de andar muito tempo em alta rotação. Fomos até Linhares-ES, na oficina do Fernando, amigo do Waltinho, para trocar o óleo. Lá ouvi o barulho de novo. O Waltinho também achou estranho. O Fernando foi logo diagnosticando: é o tencionador (regulador do tensor da corrente de comando). Depois de uma discussão sobre vantagens e desvantagens dos sistemas de mola (original) e de catraca (paralelo), encomendamos um de catraca. Por sorte um rapaz de alguma moto-peças ainda estava por lá e trouxe a peça. No problema, tudo trocado e o barulho foi embora.
Aqui aconteceu uma coisa diferente. No meio da estrada, tive que decidir se confiava ou não em um mecânico desconhecido. Você tem três escolhas. Confia e faz a troca, não confia e segue viagem porque é só um barulhinho, ou procura uma outra oficina. Bem, o cara é mecânico de confiança do Waltinho e ele próprio tem uma Falcon. Não vi motivo para não confiar.
Depois fomos jantar no restaurante que fica embaixo do hotel. Comemos pizza e tomamos cerveja. Conversamos sobre motos, casamentos, viagens, trabalho etc. Como os velhos amigos fazem. Bebi um pouco mais da conta. Tudo bem.
Segunda-feira – 14/01/2008
Distância percorrida: 651 km
Trecho: Ouro Preto-MG a Linhares-ES
Tempo de viagem: 11 horas