© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em dezembro de 2007]
Saí de Montes Claros-MG às 06:00. Fui até um posto a uns 5 km do hotel. Quando medi o óleo, nem uma gotinha no marcador. Fiquei um pouco assustado e coloquei 1/4 de óleo. Agora aparecia até quase em cima da vareta. Dava para chegar até Patos de Minas-MG. Nesta estrada, em Pirapora-MG, cruzei mais uma vez o São Francisco. Parece que dá para ir de barco de Pirapora-MG até Petrolina-PE (mais propriamente até a represa de Sobradinho).
Ontem tinha avisado para o Geraldinho que chegaria em Patos de Minas-MG lá pelas 12:30. Eram uns 400 km e eu, depois de tantos buracos, já estava acostumado a fazer uma média de 60-70 km/h. As estradas de Minas estavam muito boas. Algumas ondulações, mas sem buracos e com acostamento! Dava para andar a 120-130 km/h tranqüilamente. Aqui os carros correm bem mais do que em Pernambuco. Mesmo a 130 km/h, às vezes aparece um carro para te ultrapassar. Cheguei em Patos de Minas-MG umas 10:40 e acabei pegando o pessoal de surpresa. Fui direto para a cidade. Nisso o Geraldinho e o Cláudio – com suas respectivas filhas nas garupas – tinham ido lá para o trevo da entrada me esperar. Depois de um par de ligações conseguimos nos encontrar.
Foi difícil saber como me comportar no primeiro encontro. Deve-se ser jovial e superficial, como se tivesse visto seu amigo no dia anterior lá no FOL (Falcon on Line)? Deve-se ser formal, afinal é a primeira vez que você encontra esse novo amigo? Ou ser natural, deixar fluir o que aparecer no momento? Não sei a resposta, nem me lembro como foi a minha reação. Estava muito nervoso…
De lá fomos até a oficina do Silas trocar o óleo. Não havia nenhum vazamento de óleo. Estranho. Disseram que às vezes o óleo da Falcon “se esconde”. Vamos ver no restante da viagem. Na ida para a casa do Geraldinho parei para tirar dinheiro na Caixa. Sempre uma aventura. Depois que você coloca três senhas diferentes, o caixa eletrônico diz que você não pode tirar tanto dinheiro assim em um único dia, para sua própria segurança. Mas não diz qual é o valor que você pode tirar. Depois de várias tentativas frustradas (em todas tive que colocar as três senhas), consegui tirar o dinheiro. Ah, vida moderna.
Chegando na casa do Geraldinho, conheci a Lurdinha (mulher do Geraldinho), Edna (mulher do Cláudio), os pais do Geraldinho, o filho do Cláudio e a filhinha do Geraldinho, que parece um anjinho (ela, não ele!).
Hoje é véspera de ano novo e provavelmente atrapalhei um bocado a vida deles. Mas, acabei sendo egoísta e aproveitei ao máximo. Um almoço de imperador mineiro me esperava: frango caipira, mandioca, feijão tropeiro, creme de milho, carne, doce de leite etc etc. Conversamos muito sobre viagens. O Geraldinho e o Cláudio me deram um monte de dicas de pilotagem e cuidados a se tomar na estrada.
Mesmo tendo viajado já 3.200 km, não consigo destacar momentos específicos da viagem para contar aos outros. A viagem é um todo. As coisas importantes acontecem dentro de você. Não há como compreender racionalmente o que está acontecendo, muito menos contar para os outros. É fantástico, mas é para ser sentido, não compreendido. Talvez minha moeda de troca nesses encontros devesse ser contar grandes aventuras, perigos, ultrapassagens, velocidades limites, visuais… mas não dá. Não é isso o que realmente importa. É você e sua moto, sentindo as coisas sem compreender direito. Simples assim. Espero que eles tenham aproveitado algo do nosso encontro, mas sinceramente não sei o quê. Paciência, gafanhoto, paciência.
Saí da casa deles lá pelas 15:00. De novo, como na chegada, fui acompanhado por uma comitiva, desfilando pela cidade. Nos despedimos no trevo da cidade. Esse primeiro encontro da viagem foi muito melhor do que eu esperava. Estava tão nervoso lá no posto. Mas agora via que o dia tinha passado naturalmente, como se eu fosse da família. Nem percebi o tempo passar. Maravilhoso.
De lá segui para Uberaba-MG. Ainda faltavam uns 260 km. Uma nuvem chuvosa ficava sempre na minha frente, desabando. Mas a estrada estava do meu lado hoje e sempre desviava da chuva. Cheguei em Uberaba-MG umas 17:30. Procurei pousadas no centro, mas muito caras. Daí descobri que perto da rodoviária tinha uma porção de hotéis. Fui para lá. Encontrei um hotel bom, mas carinho (R$ 70,00, com ar condicionado, garagem e frigobar).
Logo depois foi a passagem do ano. No outro dia eu estaria no destino da viagem, minha cidade natal, Osvaldo Cruz-SP.
Segunda-feira – 31/12/2007
Distância percorrida: 688 km
Trecho: Montes Claros-MG a Uberaba-MG
Tempo de viagem: 12 horas