Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em dezembro de 2007]
Saí às 05:00 da manhã. Tinha me proposto tentar ir até Montes Claros-MG, uns 1000 km de Lençóis-BA. Tudo dependeria da estrada. Se fosse como a estrada entre Jacobina-BA e Wagner-BA de anteontem – 300 km de buracos – então andaria bem menos.
Assim que peguei a estrada lembrei porque estava ali. Cada dia é mais gostoso andar de moto, será que nunca vou cansar? A estrada entre Lençóis-BA e Barra da Estiva-BA (232 km), sempre para o sul, é a mais impressionante que já havia andado até aquele dia. Mata fechada, planície, rio, serra, cerrado, chuva, sol, subidas, retas, curvas, bom asfalto, neblina. A cada minuto uma nova sensação. Outra coisa, acho, é que agora não estava mais nervoso por estar sozinho, como estava anteontem. Ao chegar em Barra da Estiva-BA para comer um lanche, às 08:00, as pessoas estavam vestidas com blusas leves. Estava friozinho. Completamente inesperado para mim, encontrar frio durante o dia no meio do sertão.
Um pouco depois de Barra da Estiva-BA, deixei de ladear a Chapada Diamantina e as serras (que não lembro o nome) e passei a rumar para oeste. Aqui a estrada estava um pouco esburacada (uns 100 km) ou fortemente fresada (uns 70 km). Não andei mais que 80 km/h na parte fresada. Cheguei em Guanambi-BA às 13:30, já tinha andado 560 km. Este era o ponto original de parada, como tinha planejado no início. Queria rodar mais antes do ano novo. Não estava muito cansado, resolvi tentar tocar até Montes Claros-MG (mais 390 km).
Rumando de novo para o sul, transpondo a divisa de Minas, começou o calor. Não tinha sentido isso ainda na viagem. Junto com o cansaço e o sol na cara, comecei a ficar um pouco distraído. Passei direto em alguns quebra-molas. Poderia andar um pouco mais, mas achei arriscado. No próximo dia continuaria a viagem descansado. Fiquei bastante orgulhoso por ter andado quase 1.000 km em um único dia. E aproveitando cada momento da estrada, não foi na correria!
Cheguei em Montes Claros-MG às 18:00 e logo arranjei um hotel bom e barato lá no centro (sugestão de um taxista). As pousadas de Petrolina-PE e Lençóis-BA tinham sido reservadas antes da viagem porque tinha certeza de quando pararia. Queria encontrar um preço bom, perder menos tempo procurando uma pousada e evitar problemas por ser perto da virada do ano. De Lençóis-BA para baixo, a ideia era procurar quando chegasse no lugar.
Durante este trecho, o óleo começou a baixar a cada parada. Estava medindo após andar bastante, a alta rotação. Não é a maneira ideal de se medir o óleo da Falcon, mas sistematicamente o óleo diminuía. Fiquei um pouco preocupado. Pretendia trocar o óleo amanhã em Patos de Minas-MG.
Acabou o trecho de sertão, onde eu viajei sozinho, à noite, no meio de buracos. Agora começa a parte em que vou encontrar o pessoal do FOL. Terei que interagir com pessoas com quem nunca falei ao vivo. Por incrível que pareça, agora é a parte mais desafiante da viagem para mim. Veremos.
Domingo – 30/12/2007
Distância percorrida: 947 km
Trecho: Lençóis-BA a Montes Claros-MG
Tempo de viagem: 13 horas