Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em novembro de 2008]
10.11.2008
Registro do Passeio ao Açude do Boqueirão-PB – 09/11/2008.
Era para ser um passeio por vários trechos de terra: de Bezerros-PE a Vertentes-PE e depois de Santa Cruz do Capibaribe-PE a Boa Vista-PB. Era para irmos em seis motos. Não foi exatamente como planejado. Vários companheiros tiveram outros compromissos urgentes. A minha moto estava amaciando o motor, então não quis forçar na terra. Desta forma, o Açude do Boqueirão-PB (oficialmente conhecido como Açude Epitássio Pessoa, que abastece Campina Grande-PB) deixou de ser um ponto de parada, passando a ser a atração principal.
Por alguma razão nunca consegui ver um açude vertendo aqui no nordeste. Já fui em Orós-CE, Quixeramobim-CE, Quixadá-CE, Gargalheiras-RN e agora no Boqueirão-PB. Todos eles estáticos. Vou ver se me programo o ano que vem para fazer um tour para ver todas essas cascatas em operação.
05:00 – Eu e o Wagner no encontramos na Abdias, em Recife-PE. O sol estava acabando de nascer. O caminho até Bom Jardim-PE, bem arborizado e com uma estrada gostosa de pilotar, estava friozinho, com uma pequena neblina.
06:30 – De Umbuzeiro-PB a Aroeiras-PB a estrada é mais gostosa ainda. Uma bela serra, cheia de visuais fantásticos. Você sobe uma serra, depois desce até o leito seco de um rio e depois sobe uma outra serra. Paramos para tomar um café com bolo e queijo manteiga.
08:00 – Chegamos em Boqueirão-PB. Rodamos pelo açude, parque aquático, sangradouro e pela cidade. Depois ficamos proseando e tomando água de côco, olhando o açude até a chegada do Emano, que vinha de João Pessoa-PB. O Açude do Boqueirão é muito bonito, cheio de pequenas ilhas habitadas. Há vários restaurantes e passeios de barco. Um bom lugar para se voltar para passar uns dias. O sangradouro é um leito pedregoso de rio que desemboca em um pequeno cânion. Nesta época do ano está tudo seco, permitindo que carros passem por uma estrada improvisada. Quando voltar a chover, será impossível andar por ali e o cânion se transformará novamente em uma linda cascata. Andamos por alguns trechos de terra. Me senti bastante confiante para andar, por causa do curso off-road. Toda vez que aparecia alguma dificuldade eu acelerava ao invés de reduzir. Muito bom!
10:00 – Com a chegada do Emano, após colocarmos a conversa em dia, fomos andar mais um pouco. Fomos até Cabaceiras-PB, com a idéia de conhecer a Roliúde Nordestina, onde vários filmes foram gravados. Chegando lá, perto do meio-dia, descobrimos que teríamos que andar uns 30 km em estrada de areia para chegar no Lajedo do Pai Mateus, no sol escaldante da caatinga, com sol a pino. Depois teríamos que voltar esse caminho, o que nos teria impedido de aproveitar o açude. Como esse Lajedo fica na estrada de terra entre Santa Cruz do Capibaribe-PE e Boa Vista-PB, que pretendemos fazer outro dia quando o motor da moto já estiver amaciado, resolvemos voltar para o Boqueirão e deixar esse passeio para o próximo passeio.
12:30 – Almoçamos uma tilápia ensopada na beira do açude e dá-lhe mais prosa. Parecia conversa de mulher. Como os três estão embuxados, ficamos combinando como poderíamos continuar os passeios de moto. Coisas práticas como quem iria levar as mulheres de carro, por exemplo, ou ainda batizados comunitários.
13:30 – Finalmente fomos tomar banho no açude. Apesar do calor intenso, a água estava gelada. O inevitável e onipresente carro com som estava ali, mas imaginem que tocava Dire Straits ao invés de algum axé-brega. No começo ficamos parados em um lugar com piso bastante enlameado. Depois de um tempo o Emano percebeu que todo mundo estava em outro lugar, que apenas nós, os matutos, estávamos ali. Fomos então para o meio do pessoal, para descobrir que ali o fundo era arenoso. Um ótimo aprendizado: se em determinado lugar todos os nativos estiverem em um canto e outro canto estiver isolado é porque há uma boa razão para isso. Siga sempre os nativos!
15:00 – Nos despedimos do Emano em Queimadas-PB, no exato momento em que descobrimos que a placa da moto dele tinha quebrado, ficando pendurada só pelo arame do lacre. Arranjamos um arame para amarrar a placa de novo. Pronto.
16:00 – Tomamos uma água em Aroeiras-PB. Havia outro carro com som alto, tocando agora John Lennon. Demos sorte nesta viagem! Eu e o Wagner voltamos praticamente pelo mesmo caminho.A única mudança foi no trecho de Limoeiro-PE para Recife-PE. Resolvemos ir por Vitória-PE. Normalmente não vale a pena, porque essa estrada é mais longa e meio sem-graça. Mas na volta dos finais de semana vale muito a pena, porque não há todo o congestionamento da outra estrada.
17:45 – Chegamos em Recife-PE. Tudo bem. Depois o Emano mandou uma mensagem dizendo que também chegara bem lá em João Pessoa-PB
A viagem foi um pouco cansativa porque eu não podia passar dos 80 km/h. O consumo foi um pouco alto, 18 km/litro, mas espero que melhore depois de amaciar o motor. Não sei os outros, mas assim que possível eu quero voltar para conhecer o Lajedo do Pai Mateus. Não gosto muito de forçar os meus gostos aos outros, por isso não insisti em pegar a estrada na caatinga, mas todos sabem que adoro andar de moto no sertão. Fiquei com um gostinho na boca daquela estrada na Roliúde Nordestina. Quero voltar em dezembro.
Foram 480 km, em 13 horas de passeio. Valeu!
O sol nasceu exatamente na hora que saímos:
Um vento fresco e agradável vindo do açude:
Uma estrada improvisada sobre o leito pedregoso do sangradouro:
O cânion:
A Roliúde Nordestina:
Um bom lugar para tomar banho no açude:
Acabou o medo de encontrar uma estrada de terra no caminho:
Várias ilhas habitadas:
As companheiras:
O roteiro final: