Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em novembro de 2007]
04.11.2007
Combinamos um passeio para o feriadão de Finados de 2007, lá pela Região do Brejo, que fica entre o litoral e o sertão na Paraíba. A idéia era que o pessoal daqui da região se conhecesse, comer alguma coisa e pegar a estrada. Sair de Recife, tomar café em João Pessoa, um rolê em Areia-PB, almoço e estrada de volta para Recife. 500 km.
———————————–
Ficha Técnica
Vermelho: Recife -> João Pessoa (06:00 às 07:30)
Vinícius e Fábio.
Azul: João Pessoa –> Areia (10:30 às 12:00)
Emano/Aurizângela, Vinicius e Fábio.
Verde: Areia –> Entrada para Itabaiana na BR 230 (15:30 às 17:00)
Emano/Aurizângela, Vinicius e Fábio.
Preto: Itabaina – Recife (17:00 às 19:00)
Vinícius e Fábio.
Consumo médio: 24 km/litro
Velocidade média: 75 km/h
Quilometragem: 500 km
Tempo total: 14 horas
Tempo na estrada: 6:30 horas
Tempo parado (comendo, conversando, passeio, trânsito dentro de cidade…): 7:30 horas
João Pessoa: 3 horas
Areia: 3:30 horas
Recife (bairro de San Martin) 1 hora
———————————–
A Preparação
Para variar, passei todo o meu check-list antes de sair. Outro dia posto esse check-list, que serve tanto para pequenas quanto para grandes viagens. É… coisa de engenheiro! Adoramos imprevistos, somos treinados para isso, mas só aqueles causados pela natureza, pela física, pela casualidade, por limitações em nosso conhecimento. Agora, imprevistos causados pela nossa própria displicência ou imbecilidade: imperdoáveis! Cumpro essa rotina até a hora de sair. Mas, quando ligo a moto, tranqüilo de que fiz o meu máximo: daí esqueço tudo, vou conforme a estrada. Preparação e viagem, projeto e operação, dois “modos mentais” completamente diferentes. Coisa de maluco mesmo!
———————————–
A Viagem
Eu e o Vinícius, que também é daqui de Recife, nos encontramos às 06:00 em um posto do Bongi, perto da BR101. Embora fosse um sábado de feriadão, havia movimento de caminhões. A BR101 do lado de Pernambuco – que sempre é ruim, cheia de buracos – está em obra de duplicação feita pelo exército brasileiro. A cada caminhão que quer sair da obra, tem que ter um “operador de pare-e-siga” para parar o trânsito. Afinal, alguém tem que justificar os salários dos militares. Por que eles não estão na Amazônia ou ajudando a controlar o tráfico nas fronteiras? Bem, chegamos em João Pessoa (120 km), às 07:30. Abastecemos e fomos até às praias, no bairro de Manaíra, comer no famoso Mangai.
Chegamos no Mangai às 08:00. Logo chegaram o Emano e a Aurizângela, e o Denny e sua patroa (desculpa Denny, mas não consegui gravar o nome dela). A comida do Mangai é muito boa, com café-da-manhã regional. Só o preço é que é meio salgado: paguei R$ 20,00 pelo café.
Na foto estão: patroa do Denny (sorry pelo esquecimento do nome), Denny, Emano, Aurizângela, Vinícius e Fábio.
No estacionamento, as quatro Falcon’s e uma ShineRay pintada de vermelho.
O tal do Mangai:
O Denny tinha um outro compromisso com um pessoal de Natal, e não pôde nos acompanhar no restante do passeio. As outras 3 falcons: Fábio, Vinícius e Emano/Aurizângela saíram para o passeio. Passamos ainda pelo encontro de motos que estava ocorrendo em João Pessoa, ali pertinho, do lado da praia. Lindo.
Pegamos então a estrada para Areia. Uns 80 km de BR230 (boa parte duplicada, bom asfalto). Depois entramos para o norte, passando por Juarez Távora e Alagoa Grande, mais uns 40 km. Essa estrada, típica da região, é cheia de subidas e descidas, sem acostamento, com muitos animais e pessoas na pista. Tem que tomar cuidado, mas são minhas preferidas, principalmente por causa dos vilarejos. A região estava muito seca e o clima muito quente (quase 12:00). Ao passarmos pela “Churrascaria Cachoeira”, comentamos depois, todo mundo pensou: “Se tiver uma cachoeira ali, eu corto o meu **** fora”. De Alagoa Grande até Areia, são 15 km de serra, com curvas alternadas. Embora as curvas não sejam tão fechadas, são seguidas, do tipo chincana. Aqui cada um foi no seu ritmo, curtindo as curvas no seu limite. As transições entre as curvas, quando você sente o guidão ficar leve, são deliciosas. É muito importante, nessas curvas, olhar sempre para onde se quer ir, e não para o acostamento. Às vezes o piloto pode perder a referência visual. Por isso, sempre a mesma coisa: vire a cabeça (não apenas os olhos) para onde você quer ir… a moto dá um jeito de ir junto! Brincadeira, é claro que é a sua mente que controla o seu corpo para ir naquela direção. Mas, de qualquer forma, funciona! O visual nesta serra não é tão legal, porque a mata é fechada. Não se vê muito longe, mas o ambiente é bonito mesmo assim. Cada vez vai ficando mais fresco.
Em Areia fiquei um pouco decepcionado porque não conseguimos aproveitar a cidade. Os guias turísticos falam um monte. Mas, chegando lá, não pudemos achar um bom restaurante. O tão cantado Museu da Rapadura estava fechado. E o Colégio Santa Rita, de freiras franciscanas, também não tinha acesso aos finais de semana. Este colégio impressiona muito, porque pode ser visto de toda a região.
A cidade, conforme informações de amigos, também tem várias trilhas e cachoeiras, mas não dava para fazer esses passeios com pouco tempo. Vamos ver se voltamos lá outro dia, com mais tempo. Aí embaixo vai a foto da igreja da cidade. Fiquei pensando porque as igrejas chamam tanto a atenção para mim nessas cidades pequenas. Sou ateu, e além disso não gosto de padres ou religião. Mais para frente, na viagem, descobriria a resposta.
Descemos a serra para voltar à famosa “Churrascaria Cachoeira”. No meio do caminho o Vinícius achou uma placa: Reserva Ecológica Furnas, 5 km. Parou para perguntar para uns passantes, que disseram ter um restaurante lá. Bem, pegamos a estradinha de terra e fomos ate o local. Cada um no seu ritmo, uma estrada com um visual muito legal da região.
Achamos o restaurante muito caro, para os padrões da região. Comemos bem, mas sem “estufar”, e sem cerveja, já que ali ninguém bebe enquanto pilota. A conta ficou R$ 15,00 por pessoa. No cardápio: Rubacão e Galinha de Capoeira. Muito bom, principalmente o Rubacão, que eu não conhecia nem de nome.
O restaurante ficava ao lado de um escorregador natural e de um laguinho. Como só eu tinha levado roupa de banho, acabamos não entrando n’água. Vamos “se ligar” pessoal, aqui é muito seco, mas sempre tem um açude, cachoeira ou barreiro dando sopa.
Outra peculiaridade do restaurante é que ficávamos junto com a matéria-prima. Isso mesmo, foto do hoje e do amanhã.
Na volta passamos por Alagoa Grande. De novo, parei para tirar uma foto da igreja. Mas, daquele ângulo, vi uma construção rosada, que me chamou mais a atenção. Fui até lá e descobri ser um teatro. Bem, acho que é isso: as igrejas chamam a atenção por estarem bem localizadas, serem construções bem feitas e cuidadas e por serem uma das “coisas” que dão identidade ao povo de um local. Como o Colégio de Santa Rita em Areia, ou o Açude de Orós, que também chamam muito a atenção. Acho que as igrejas se tornam um ponto focal quando o vilarejo é pobre, pois só há a igreja para se orgulharem e se espelharem. Quando têm um museu, colégio, açude, logo-logo a imponência das igrejas é suplantada.
Na volta, a estrada que tínhamos achado seca e quente parecia outra. Já perto do pôr-do-sol, tudo era fresco. As árvores passavam a chamar mais a atenção. O céu não queimava mais os olhos. Delícia. Mas já vinha a noite, e eu estava ficando um pouco preocupado.
Nos despedimos do Emano e da Aurizângela na saída para Itabaiana. Pena que ela tenha ficado com dor nas costas por causa de um buraco inesperado. Acho que foi o único ponto negativo na viagem. Mas, espero que tenha melhorado e que, no balanço, ela continue achando que valeu a pena o passeio.
Nos últimos 100 km, eu e o Vinícius viajamos à noite (aqui 5:00 já está claro, e as 17:30 o sol já está se pondo). Uma estrada muitas vezes deserta – quando não, com fluxo de treminhões – sem acostamento, no meio do canavial. Foi a primeira vez que viajei à noite por uma distância tão grande. Conseguimos andar em um ritmo bom pois a estrada era toda pintada. A primeira metade foi complicada porque minha viseira estava toda suja… e não tínhamos lugar para limpar. Quando o primeiro posto apareceu, resolvemos o problema. Já a viseira do Vinícius não tinha jeito: era fumê. Teve que vir com ela aberta a volta toda.
Na chegada, eu e o Vinícius, que não somos de ferro, fomos tomar uma cerveja no bairro de San Martin. Em uma praça onde tinham instalado um parque de diversões. Parecia uma cidade do interior. Conversamos sobre a viagem, combinamos a próxima.
É isso!
Vinícius, Emano, Aurizângela, Denny e Patroa do Denny… adorei vocês.
Claudino, só tem uma palavra para você: coxinha!
Curvas da serra de Areia, escuridão no trecho de Nazaré da Mata, buracos da BR101, rapidez da BR230, mudança de cenário na estrada próxima de Alagoa Grande, estradinha de terra da Reserva Ecológica de Furnas. Uns momentos são melhores, outros piores. São como a vida!
—-
(Relato do Emano, no FOL)
O cansaço não foi só pelo passeio não, tava numa boa de uma ressaca da sexta-feira Tanto que no café da manhã só desceu suco, água de coco e água gelada!
Fábio… o que aconteceu com a Aurizângela foi chatinho, mais nada demais, chegando em casa a dor já tinha passado… e bora se preparando pra próxima! E ae Será que o Vinicius chegou a tempo de seu compromisso?? (ele tava com um não é??)
Pow o Fábio já fez todo relato! e as melhores fotos valeu Fábio!
Os três na saída de joão pessoa! Fábio, Vinicius e Emano
Fotinha da trilha, esqueci de comentar mas aquela ladeira na saída do balneário com garupa a dianteira tava levinha… tava com receio da frente subir!
Paisagem da lateral da estrada para a reserva ecológica
O Fábio na estrada!
Bom é isso ae! Valeu ter conhecido a galera!
abraços