Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em julho de 2008]
De volta à estrada às 05:45. Tive que agüentar uma CG andando mais rápido do que eu nos 6 km de saída do hotel, mas tudo bem. O medo da areia não era mais paralisante. Apenas cuidado por conhecer os seus limites e ir progredindo lentamente. Acho que o tipo certo de precaução que se deve ter em uma moto.
De Piripiri-PI a Teresina-PI é uma grande reta com bom asfalto. Muitas pick-ups, caminhões e pessoas no acostamento. Motos com bebês, motos com 3 ou 4 pessoas, todas sem capacete, motos carregando bodes. Tudo o que for possível sobre uma moto. Chegando em Teresina-PI encontrei muito trânsito. Estava desacostumado.
Em Sete Cidades não havia sinal de celular ou telefone fixo. A única comunicação era com um celular de um dos funcionários do hotel. Em Teresina-PI consegui sinal de novo para ligar para o pessoal de casa.
Em Teresina-PI atingi o extremo oeste da minha viagem. Agora deixaria de andar para o norte e para o oeste e começaria minha viagem de volta para Recife. Peguei a estrada para o sul do Piauí, rumo a Floriano-PI.
Ainda não estava certo se pararia em Floriano-PI, uma cidade maior, ou em Oeiras-PI, uma cidade histórica. Decidi por Floriano-PI, porque queria voltar um pouco à civilização, deixar recados na internet, talvez ver algum museu, comer algo diferente e típico do Piauí.
A estrada de Teresina-PI a Floriano-PI era deserta novamente. Pouquíssimas cidades ou pessoas na estrada. Mais uma vez me deu aquela sensação de estar em um programa do Amaral Neto. Se furasse um pneu? Bem, eu estava levando câmaras extras, mas precisaria de um borracheiro.
Em Amarante-PI, a 80 km de Floriano-PI, deixei de abastecer, mesmo sabendo que os prováveis 4 litros no tanque seriam suficientes na medida. Impossível não haver um posto no caminho. Não havia. A 30 km de Floriano, com 1 ou 2 litros no tanque, parei em um povoado para abastecer. Não havia posto. Tinha duas opções: arriscar até Floriano-PI naquela estrada deserta ou entrar para Francisco Ayres-PI, que me juraram ter um posto. Arrisquei os 10 km até Francisco Ayres-PI. Estrada mais deserta ainda, se é que isso é possível.
Mas a gasolina foi suficiente. Ao avistar a cidade, vi que a ponte tinha sido destruída. Um rapaz me disse que tinha que pegar um desvio, de cerca de 2 km. Era uma estrada de areia. Fui devagar, no meu ritmo, sem problema.
A gasolina foi suficiente. Ao avistar a cidade, vi que havia um rio no meio da estrada. Um caminhãozinho atravessou o rio com água sobre o capô. Perguntei a um senhor se havia um posto do outro lado do rio. O senhor disse que sim e me ensinou o caminho das pedras, desviando entre os bancos de areia. Disse que até CGs passavam por ali sem problema. A maior profundidade foi 30 cm, sem problema. A dona da venda me explicou que a ponte tinha caído há dois anos atrás. Agora só era possível atravessar no inverno. No verão, quando chove, as pessoas deixavam os carros do outro lado do rio e atravessavam de barco. Abasteci na cidade e voltei para o rio.
Confiante com a travessia de ida, esqueci do caminho das pedras. A moto entrou em uma vala de uns 60 cm de profundidade e escorregou a traseira. Nisso, ao contrário do que normal e erradamente faço nessas ocasiões de risco, acelerei a moto. Ela endireitou e saiu da vala. Depois fiquei pensando que devia ter prestado atenção ao caminho de volta, não tendo ficado tão confiante. Também, que deveria ter olhado se havia outras pessoas por perto caso eu caísse. Havia uma outra moto, mas poderia não haver.
De lá, peguei novamente o trecho de areia, sempre andando mais lento que as CG’s e rumei para Floriano-PI. Chegando lá fui direto para uma Honda trocar o óleo, calibrar o pneu, ajustar e lubrificar a corrente. Serviço rápido, pagando apenas o preço do óleo.
Procurei vários hotéis na cidade até achar um barato. Desmontei a moto e fui almoçar no restaurante flutuante do Parnaíba. Nada de especial. Depois cruzei a ponte até o Maranhão, só para dizer que estive por lá. Aproveitei a tarde para postar na internet, ligar, gravar um CD com fotos e descansar. À noite, orgulhoso por ter chegado tão longe sozinho e até ter atravessado um rio, fui passear na orla de Floriano-PI. Visitei um museu contando a história do rio, tomei uma cerveja em um espetinho e voltei para o hotel. A Renata acabou de sair de casa agora. Amanhã vamos nos encontrar. Estou morrendo de saudade.
Segunda-feira – 07/07/2008
Trecho: Parque Nacional das Sete Cidades-PI a Floriano-PI
Tempo de viagem: 7.5 horas
Distância percorrida: 470 km