Pico do Jabre

© Coleção Equilíbrio em Duas Rodas (2021)
Livro: De Motoca na Estrada

PICO DO JABRE
Fábio Magnani
[publicado originalmente em março de 2008 e setembro de 2009]

Na última sexta-feira (07/03/2008), saí de Recife às 12:00 rumo a Pesqueira-PE. A BR-232 é muito tranqüila, dá para fazer 215 km em 02h15min. A idéia era passar a noite lá com a Renata – que agora trabalha lá nas sextas e sábados -, aproveitar o sábado para dar uma volta até o Pico do Jabre-PB e voltarmos, os dois, para Recife-PE no domingo. Tinha marcado de encontrar com o Emano lá no Jabre às 11:00. O Emano viria de João Pessoa-PB.

Na “Grande Viagem” eu deixei de aproveitar melhor alguns passeios por não ter muita segurança de andar de moto na terra. Agora, para “Viagem ao Sertão” (julho de 2008), pretendo me aclimatar melhor na terra para aproveitar melhor a viagem. Afinal, vou passar por Sete Cidades-PI, Serra da Capivara-PI e Chapada Diamantina-BA, todos lugares com estradas de chão. Além disso, alguns caminhos de terra podem significar grandes atalhos.

Como ia andar em estrada de terra, resolvi tirar a bolha da moto. Senti muita diferença na dirigibilidade no asfalto. Dá a impressão que a frente fica mais “solta”. Além disso, todo o vento vem para o peito, ao invés de ser jogado na cabeça. Acaba cansando mais viajar sem a bolha. Da próxima vez, vou com a bolha até Pesqueira-PE e lá tiro a bolha para andar na terra. As roupas, ferramentas, jaqueta da Renata etc foram nos alforges da FrontSide. Desta vez viajei sem o bauleto Givi 45 litros.

O principal objetivo deste passeio ao Jabre era a ida, andando na terra. No sábado, saí de Pesqueira às 05h05min. O primeiro trecho de 26 km de asfalto até Poção-PE é muito bonito. O sol ainda não tinha nascido, mas o dia foi clareando com revoadas de pássaros. De Poção-PE até São João do Tigre-PB a estrada é de terra. Praticamente uma trilha: areia, pedregulhos, subidas, descidas. 42 km feitos em 1h30min. Não havia nenhum movimento. Nas bifurcações o negócio era ir por onde havia mais rastros de bodes, cavalos e pneus. Por três vezes tive que descer da moto para abrir porteiras. E olha que era uma estrada constando no guia 4 rodas. De São João do Tigre-PB até Livramento-PB foram mais 149 km de terra. Mas agora dava para andar mais rápido, às vezes até uma esticada a 100 km/h. Percurso feito em 3 horas, média de 50 km/h.

No começo a estrada parecia uma trilha:

Depois ficou melhor:

Um pouco após Livramento-PB voltei ao asfalto. Daí foi tranqüilo andar os 39 km até Trindade-PB. Parei para abastecer. Enquanto os dois frentistas conversavam sobre os três ônibus cheio de mulheres que estava indo para o Jabre, o cara esqueceu de desligar a bomba. Molhou a moto inteira de gasolina, mais a minha calça. Bem, depois de uns impropérios de minha parte, os caras lavaram a moto com água e sabão. Eu fui até o banheiro, baixei a calça e tentei lavar da melhor maneira possível as “partes” atingidas. A gasolina começou a esquentar na minha pele e fiquei um pouco preocupado. Mas não teve nada demais.

Encontrei o Emano em Maturéia-PB às 11:00. O cabra já tinha chegado há uns 40 minutos. Para chegar ao Pico do Jabre é fácil. Você pega a estrada errada, anda uns 30 km, pára para perguntar, volta para Maturéia-PB, anda uns 3 km de terra. Depois é um subidão com curvas em paralelepípedo. De Falcon é bem tranqüilo para subir. De carro com tração dianteira, ou moto Custom, talvez seja um pouco mais difícil.

Subida ao Pico do Jabre:

Lá em cima, a visão é de tirar o fôlego. O Pico do Jabre é o terceiro ponto mais alto do Nordeste, com 1197 m de altitude.

Vista do Pico do Jabre-PB:

Emano:

Fábio:

Depois de descansar um pouco, descemos o Jabre e fomos até Trindade-PB, almoçar na Pedra do Tendo, que fica bem na estrada da Serra de Teixeira-PB. Lá, seguindo a sugestão do amigo Nando de João Pessoa, chegamos pedindo um Preá Assado. O dono ficou vermelho, com olhos esbugalhados e disse: “Nós não comercializamos caça neste estabelecimento”. Depois ele deixou soltar que estava achando que fôssemos do Ibama. Mesmo insistindo que não éramos ele continuou repetindo a mesma frase. Mesmo quando eu perguntei para ele me explicar pelo menos como era o preá, se tinha só osso ou se era carnudo, o cara respondeu que nunca tinha visto um preá na vida. Paciência, quem manda andar com jaqueta do Bope?

Almoçamos bode guisado, arroz na graxa e feijão. Tiramos umas fotos lá de cima da pedra e nos despedimos, às 14:00. O Emano desceu a Serra de Teixeira, rumo a Patos-PB e depois João Pessoa-PB. Eu iria voltar para Pesqueira-PE, mas desta vez por estrada de asfalto.

Fábio na Pedra do Tendo-PB:

Durante a volta, fiquei em dúvida se não faria um atalho por terra, alguma coisa entre 30 e 60 km. O problema é que poderia escurecer e o tempo estava fechando. Se a estrada fosse complicada como aquela do início do dia, podia ficar atolado ou andando sozinho em estrada de terra já escuro. Decidi ir até Monteiro-PB. Dependendo do horário que chegasse lá, e das informações, pegaria o caminho parcialmente de terra. O caminho por São Sebastião do Umbuzeiro-PB, segundo o mapa, tinha 90 km até Pesqueira-PE. 30 a 60 km seriam de terra. O caminho só por asfalto, via Arco Verde-PE, era de 130 km. Em princípio valia a pena ir por asfalto, mas a idéia deste passeio era perder o medo de terra.

Em Monteiro-PB me disseram que já havia asfalto até Zabelê-PB. O trecho de terra seria apenas de uns 35 km. Fui por lá mesmo. Eram 15:30 (pelo menos duas horas de dia claro) e o céu, apesar de forrado de nuvens cinza escuro, parecia estabilizado.

O trecho até São Sebastião do Umbuzeiro-PB estava movimentado, ultrapassei umas quatro CGs e cruzei com um ou dois carros. No meio do caminho vejo dois caboclos parados no meio da pista, ao lado de uma CG vinho. Um deles com uma submetralhadora velha, com o pente enrolado em fita scotch. Os dois estavam com camiseta da polícia. Na hora tive que decidir entre parar, fugir ou jogar a moto por cima do cara armado. Como tinha acabado de ultrapassar as motos a pouco tempo, elas logo passariam por ali. Decidi parar. Parei a moto bem no meio da pista. Os caras então passaram a me revistar completamente. Bolsos, bota, mochila. Depois disseram que só estavam revistando quem eles não conheciam, porque tinha havido um assalto de moto nos últimos dias. Todos os motoqueiros que passavam por ali estavam sem capacetes. Nenhum foi parado.

Um pouco apreensivo ainda com a situação, montei na moto e fui embora dali. Durante a revista, vários carros e motos passaram, o que tinha me tranqüilizado um pouco. Depois me lembrei que já tinha sido parado antes na Paraíba, uns meses atrás. Quando fui pegar a carteira, o guarda disse que não precisava, mas se eu não tinha R$ 1,00 para dar para ele. Não houve coação nenhuma, apenas pena do pedinte. Quando me lembrei disso, fiquei mais calmo.

Chegando em Umbuzeiro, procurei a polícia para avisar dos caras. Ainda não tinha certeza se eram realmente policiais. Também fiquei um pouco preocupado de andar o outro trecho sozinho na estrada, porque aquilo que acontecera podia ter sido apenas um levantamento de dados para me pegarem mais para frente. O posto policial estava fechado. Como já estava escurecendo, resolvi ir em frente assim mesmo. Estava um pouco paranóico com a situação, mas acho que é bom tomar um pouco de cuidado. Normalmente essas coisas nem passam pela minha cabeça. Minha única preocupação é quebrar a moto. Acidentes, assaltos, seqüestros… nem pensar. Da próxima vez vou ver se fico um pouco mais ligado nessas coisas. Sem exagero, mas sem bobeira também.

Bem, no outro trecho de 25 km não havia viva alma. O tempo começou a fechar de vez. O dia foi escurecendo um pouco, redemoinhos na estrada. Sinistro. Comecei a imaginar um seqüestro armado pelos caras lá atrás. Mas felizmente não houve nada. Quando cheguei em Cimbres-PE o asfalto estava de volta. Andei 200m de asfalto e a chuva despencou. Estava sem capa, então cheguei encharcado no hotel. O bom é que a chuva lavou parte da gasolina que tinha molhado minha calça antes.

Chuva sobre Pesqueira-PE:

Cheguei no hotel às 17:05. À noite fomos almoçar em uma pizzaria. Tive que ir de calção porque minha única calça estava molhada, suja de borboletas amarelas, terra e gasolina.

No outro dia pela manhã voltamos para Recife-PE. 2h30min, só na tranqüilidade.

Registro-> No outro passeio por terra, lá perto de Limoeiro-PE, acabei o dia com a perna bastante inchada. Não sei bem a razão: dois meses sem nadar, muito tempo em pé na pedaleira ou o terceiro elástico da joelheira, na coxa, muito apertado. Neste passeio fiquei mais tempo sentado, tinha nadado nas últimas três semanas e não apertei o elástico de cima. As pernas não incharam… vai agora saber a razão.

Resumo:

Sexta: 215 km de asfalto, 02h15min
Sábado: 225 km de terra, 259 de asfalto, 12h10min
Domingo: 208 km, 2h35min

Diária de casal em Pesqueira-PE (com ar): R$ 45,00 por dia.
Consumo médio: 20 km/litro.

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Postado pelo Emano no M@D:

Opa… rolou o passeio sim! Wink Wink Wink Wink

Saí as 06:00 da matina e deu pra ser feito no bate-volta, num total de 730km… chegando em casa por volta das 18:00h, pra quem é da região, fui por Taperoá e voltei pela serra de teixeira, patos e sta luzia

Nando… não foi possível comer o preá, ficamos com o bode! Cool Cool

algumas fotos


O Fábio no topo da Paraíba


Uma vista do local


as motos na subida, na foto não dá pra perceber, mas é muito íngreme!


na pedra do tendó, o Fábio contemplando a paisagem


Curva na serra de teixeira, visa de cima da pedra do tendó


as cavalas


o fábio subindo a pedra do tendó

Gostei muito da vista da pedra do tendó, talvez pq de cima do pico jabre estava com uma névoa
Fábio onde vai ser o próximo passeio??? bora se ver se os coxinhas dessa vez vão Twisted Evil

Twisted Evil Twisted Evil


A VOLTA

28.09.2009

Neste último final de semana fomos dar mais uma volta de moto pelo estado da Paraíba. Foram cinco motos, todas do auto-intitulado grupo dos PEBAS. Para mim era uma volta a passeios antigos, para os outros o primeiro encontro. Andamos quase 1.000 km em dois dias, uns 70 km de terra e dois picos impressionantes: Pico do Jabre-PB e Pedra do Tendo-PB.

Muito embora o nome do nosso grupo possa parecer esquisito, nasceu de uma brincadeira com as siglas de Pernambuco e Paraíba. Nos conhecemos pela internet há cerca de dois anos, marcamos um almoço em Taquaritinga do Norte-PE, fizemos amizade, nossas mulheres se conheceram e de lá para cá fizemos uma porção de passeios de moto. Uma pena que não possam ir todos para o Atacama. Mas, de certa forma, é como se nós, que vamos, fossemos os representantes dos Pebas. Digo isso porque todos participam intensamente da preparação, com contatos, dicas, treinamentos e passeios. Dá para sentir o envolvimento de todos quando paramos em algum lugar e alguém pergunta quem somos. Dizem, então, que somos um grupo de amigos motociclistas e que, por acaso, aqueles dois ali estão indo para o Atacama. Neste último passeio, por exemplo, queríamos andar um pouco pela terra para acostumar. Por mais irônico que possa parecer, os que vão para o Atacama são os que ficam mais tensos ao pegar um areião. Os outros, que pilotam moto há mais tempo, vão dando dicas e fazendo brincadeiras para relaxar.

No final de semana, aproveitei para testar mais um pouco os equipamentos de segurança: bota e protetores (pescoço, coluna, perna e braço). Não incomodam quase nada. Esquentam um pouco, mas a sensação de segurança que trazem compensa o pequeno desconforto. De resto, só um pouco de cansaço da viagem. Embora nos preparemos fisicamente o ano todo, alguns movimentos são específicos da pilotagem. Só andando de moto mesmo é que vão se acostumando ao esforço.

Andamos em vários tipos de terreno. Grandes retas de asfalto, serras com curvas fechadas, uma grande descida de terra pela serra entre Maturéia-PB e Mãe D´Água-PB e um trecho noturno por uma estrada de terra cheia de desníveis entre Mãe D´água e São José do Bonfim-PB. Para ficar completo, só faltou um pouco mais de areia. Talvez dê tempo para fazer um curso de pilotagem na areia até o final do ano. Sinto que posso melhorar bastante.  A questão é nitidamente psicológica. Acredito que se andar um pouco com uma moto um pouco mais leve pegarei logo a confiança necessária.

Eu não me preocupo nem um pouco por não ter grande experiência na areia. Peguemos a história de Ted Simon, por exemplo. Para quem não o conhece, é considerado o maior rider de todos os tempos. Não por ser exímio piloto, mas apenas por ter a coragem de rodar pelo mundo, sem medo e sem preconceitos. Aos 40 anos, no início da década de 70, viajou durante 4 anos pelo mundo. Aos 70 anos de idade, fez outra viagem, agora de 3 anos. Mas voltando à questão da areia, Ted Simon, embora tenha andado muito de moto, nunca perdeu completamente o receio de andar nesse tipo de terreno. Principalmente com motos altas e pesadas. Quando estava no Egito, uma equipe da TV foi filmá-lo. Obviamente, queriam que andasse de moto por algum lugar com areia, característico da região. Ted Simon ficou todo tenso e envergonhado, porque não conseguia andar sem tirar os dois pés do chão. Bem, todos sabem que para andar de moto é preciso acelerar. Quanto mais rápido se anda, mais a moto fica estável. Mas para isso é preciso ter confiança de que você não vai cair. Ted Simon sabia disso. E sabia que todos sabiam. Que vergonha estava passando dentro do capacete. Mas daí, sabe do que lembrou? Da capa do livro de Robert Edison Fulton Jr. Esse tal de Fulton Jr. foi o primeiro cara a dar a volta ao mundo em uma moto, na década de 30. Na capa do seu livro, há uma foto dele andando no meio do deserto. Ele está equilibrado na moto, flutuando  sobre a areia? Está confiando de que não vai cair? Está respeitando as dicas dos maiores especialistas? Não. Ele está com os dois pés plantados na areia! Ted Simon e Fulton Jr. não são grandes especialistas. São simplesmente caras que deram a volta ao mundo de moto. Eu também não sou nenhum especialista em andar na areia. Mas sou o cara que vai para o Atacama. Devagar, se precisar, mas sempre em frente.

Todos os Pebas irão conosco para o Atacama – em pensamento, pela internet e celular. Sabemos que estarão na base para ajudar com a procura de informações – onde achar peças, por exemplo -, e principalmente para nos animar nos momentos mais difíceis. Felizmente, não vamos viajar sozinhos.

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Logo no início do dia, demos uma entrevista para uma rede de TV de Campina Grande-PB. O Denny arranjou tudo durante duas semanas. Gravaram nossas respostas e alguns trechos com as motos em movimento. Cada um falou um pouco, sobre os Pebas e a viagem ao Atacama.

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No almoço paramos no meio da estrada para comer um bode assado. Tranquilidade e um pouco de sombra no meio do sertão.

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Mesmo tendo atrasado um pouco o nosso cronograma por causa das gravações da TV e um problema mecânico em uma das motos, ainda chegamos ao Pico do Jabre com dia claro. Na foto, da esquerda para a direita, Denny (Campina Grande-PB), JP (Santa Cruz do Capibaribe-PE), Bacanex (João Pessoa-PB) e Wagner (Recife-PE).

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Quando combinamos o passeio, queríamos descobrir se havia um jeito de descer do Pico do Jabre por uma estrada de terra. Chegando por lá todo mundo conhece a estrada, tendo até placas sinalizadoras. O dia já estava chegando ao final. Nossa viagem ao pé da serra foi acompanhada o tempo todo pelo sol.

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Os últimos 24 km de terra foram feitos à noite, mas voltamos no outro dia para uma foto do finalzinho da estrada. Neste trecho, praticamente um asfalto.

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No domingo pela manhã, fizemos várias filmagens e fotografias andando no asfalto. Nesta daí o Bacanex tira uma foto minha e do Denny.

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Uma foto de cima da Pedra do Tendo-PB. Fábio, Denny, Wagner, JP e Bacanex.

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Fizemos várias tomadas em vídeo próximo a essa curva. De cima, de baixo, de lado e de todo jeito mais que foi possível. Vamos ver se dá para aproveitar alguma coisa.

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