Livro: De Motoca na Estrada
Fábio Magnani
[publicado originalmente em janeiro de 2008]
Agora que a viagem é finda, podemos fazer algumas análises do que deu certo ou errado, ou do que poderia ter sido feito diferente.
FÁBIO:
A preparação física – natação quatro vezes por semana – foi válida. Não senti dores ou cansaço na viagem. Mas talvez tivesse cansado se tivesse feito trilhas a pé maiores,. Na próxima pretendo, além de continuar a natação, fazer mais corridas com o intuito de baixar o peso e ganhar resistência para caminhadas.
Na próxima tentaremos gastar menos. Às vezes escolhemos pousadas às pressas para ter tempo para passear. Também temos um fraco por comida e às vezes acabamos nos excedendo nos restaurantes. Comi demais (ah… comida baiana, mineira, paulista, pernambucana etc etc) e ganhei 4 quilos na viagem.
No decorrer da viagem fui perdendo o receio de parar na estrada para tirar fotos (pois estava sozinho, muitas vezes em locais ermos). Mesmo assim, tiramos 1071 fotos e fizemos 136 filminhos. De qualquer forma, tenho que aprender a tirar foto em movimento, arranjar algo para amarrar a máquina no peito (para não precisar parar e tirar a luva toda hora). Mas, principalmente, quero ver se estudo um pouco de fotografia, pois é frustrante não conseguir expressar a vastidão de um vale ou a altura de uma montanha.
Não me arrependi da roupa que levei. Jaqueta leve, mas com muitas proteções. Passei frio em alguns momentos, mas poderia ter colocado a capa de chuva por cima se quisesse. Como a maior parte da viagem foi no calor, a jaqueta foi fantástica. O uso do capacete escamoteável também foi uma escolha muito boa. Podia tranqüilamente pedir informações e conversar ao longo da estrada. Quanto às joelheiras, não usei, mas não me arrependi. Acho que não fariam grande diferença em uma queda grande. Mas, se tivesse caído devagar lá nos buracos da Bahia, andando a 10 km/h, um esfolado no joelho poderia ter sido a diferença entre continuar ou não a viagem. Vou continuar usando.
Um problema da roupa toda protegida é que causa um pouco de distanciamento com as pessoas de cidades pequenas. Você parece um alien quando chega. O uso de calça jeans ao invés de uma de cordura diminui um pouco o impacto visual. Mas acho que o uso de roupa completa é um bom preço a se pagar. Por um lado você tem segurança e por outro às vezes é bom causar um certo medo, principalmente quando se viaja sozinho. É claro que se perde, às vezes, a oportunidade de uma boa prosa. Mas não se pode ter tudo.
Os pneus SIRAC (que duraram 11.000 km comigo) gastaram quase do mesmo jeito que os Pirelli originais (duraram 15.000 km comigo), levando-se em conta que viajei mais com o SIRAC do que com os Pirelli.
Durante a viagem queimaram três lâmpadas do painel (talvez já estivessem queimadas antes e eu não tivesse percebido, já que dificilmente ando à noite em estradas escuras) e o regulador do tensor da corrente de comando começou a fazer barulho (quase imperceptível, que se confundia com o ruído do descompressor). Na viagem, troquei o original por um de catraca lá em Linhares-ES. Logo ao chegar em Recife (uns 2.000 km depois), o regulador de catraca quebrou novamente (fazendo um barulho assustador agora). Troquei pelo original novamente. Até agora tudo bem. Por essa experiência muito específica, da qual não deveria tirar conclusões, fiquei um pouco inclinado a confiar mais nas peças originais da Honda. Ainda bem que guardei a tensor que tinha quebrado. O que eles vendem na Honda vem sem a tampa (parafuso e junta metálica). Segundo os mecânicos, é difícil conseguir esses componentes. Como nada é perfeito, o pessoal da Honda montou o escape errado. Na parte do silenciador, eles prenderam o escape na parte de dentro, não da de fora. Com isso, o escape começou a pegar no pára-lama e no pneu traseiro. Pelo menos foi fácil de descobrir, já que o afastador de alforje serve como referência de distância. Descoberto o problema, fácil de resolver. Mas é o tipo de coisa que pode passar batida em uma viagem até que o pneu fure no meio do nada. Nada como a velha inspeção visual antes de sair de casa, procurando por qualquer coisa estranha.
Não gostei nada da revisão da Honda em Adamantina-SP. Estou acostumado a fazer revisões na Honda de Recife-PE a cada 3.000 km. Na próxima viagem, acho que vou fazer uma grande revisão na saída. Durante a viagem, só troca de óleo (a cada 2.000 km), de filtro de óleo (a cada 4.000 km) e inspeções no filtro de ar. Se for necessário, uma limpeza de carburador.
Bem, quando troquei o pneu, coloquei de novo o SIRAC ao invés do Pirelli 130 (estava o mesmo preço). Mas neste caso, tinha ficado impressionado com o SIRAC quando ele segurou a moto com o pneu furado, a 110 km/h (em uma viagem anterior a Caruaru-PE). Além disso o SIRAC traseiro é mais bonito que o Pirelli. Os dianteiros são iguais.
Devido aos buracos, o suporte inferior da bolha quebrou. No modelo que eu tinha o suporte era de plástico. No modelo que o Koiti me presenteou, o suporte é de arame. Acho que este novo será mais resistente.
Minha habilidade em curvas foi diminuindo durante a viagem. Depois que percebi isso, e comecei a observar o que estava fazendo de errado, melhorei novamente. É bom sempre estar atento a sua pilotagem. Não é bom achar que o progresso vem sempre automaticamente. Às vezes se anda para trás.
Por enquanto não apareceu nenhuma multa. Tomara que continue assim. Só fui parado uma vez, na Linha Verde, perto da Costa do Sauípe-BA. O guarda quis encrencar com a cor da minha moto, que segundo ele não era prata e sim preta. Falei para ele reclamar na Honda. O cara teve ainda que me ver abrindo as calças para tirar a pochete falsa com os documentos. É, guardinha, não se pode ganhar todas.
Embora não tenha sido possível mantê-los, na próxima viagem vou levar os cabos de acelerador e embreagem, lâmpadas, vela, kit para consertar pneu e manetes. Não pretendo levar tantas ferramentas como tinha me proposto originalmente. Principalmente por causa do peso, já que nesta viagem teríamos um carro de apoio. Acho legal ter peças e ferramentas, mesmo que não saiba usá-las. Sempre vai aparecer um motoqueiro na estrada com alguma experiência, ou um mecânico em uma cidadezinha. Mas eles não terão necessariamente ferramentas ou peças para a Falcon.
A Falcon é muito segura, confiável e confortável. Falta um pouco de potência, principalmente quando se usam alforjes.
É possível andar 1.000 km por dia em uma boa estrada. Mas o ideal é andar 600 km, porque a tarde pode ser usada para conhecer os lugares onde se para. Se a estrada for muito esburacada, acho que 600 km é uma boa medida.
Nesta viagem escolhemos parar pouco tempo em muitos lugares, com o intuito de visitá-los mais à frente caso valesse a pena. Também não tínhamos muita escolha, porque o nosso destino final, Osvaldo Cruz-SP, era distante. Por ter ficado pouco tempo, deveríamos ter contratado um guia para conhecer os locais. Principalmente na Chapada Diamantina. Quando se fica pouco tempo, se gasta muito tempo para se virar no lugar. Caso vá ficar mais tempo isso é legal, mas com pouco tempo perdem-se oportunidades.
Na próxima viagem vou dar menos ênfase para as preparações da moto e mais importância para informações turísticas. Também pretendo andar mais em cada dia. Normal que tenha sido o contrário na primeira grande viagem. Era a primeira vez.