Livro: Conversas Técnicas Sobre Motos
Fábio Magnani
[publicado originalmente em novembro de 2014]
Por que é perigoso obrigar as motos a rodarem na mesma velocidade dos outros veículos? Imagine que você está no seu carro em uma via cheia de caminhões, daí você resolve, em um ato de civilidade, não ultrapassar a velocidade máxima da via – 60 km/h, por exemplo. Se essa também for a velocidade máxima para os caminhões, você vai estar em risco constante, pois sempre terá um caminhão cheirando a sua traseira. Você não poderá se distanciar deles e ainda correrá o risco de ficar no ponto cego. Pior, quando o caminhão quiser mudar para a sua pista, como todos andam na mesma velocidade, ele terá que se jogar em cima você. Um inferno, não é? Sim. Esse é o inferno que os motoqueiros têm que viver diariamente se quiserem respeitar a velocidade máxima permitida, que é igual à velocidade máxima dos carros.
Parece que o problema é que os engenheiros de tráfego não andam de moto, então não entendem as especificidades desse modal. Para piorar, as pessoas têm a visão errada que os motoqueiros andam rápido por imprudência, quando na verdade é por segurança, para sair logo de perto dos carros. A agonia para passar pelo corredor no semáforo é uma tentativa de escapar dos carros na largada. Exatamente pela mesma razão dos carangueiros que
tentam sair rápido de perto de uma fila de caminhões.
Por isso, seria bastante inteligente se as motos pudessem rodar a uma pequena velocidade acima da velocidade dos carros, para poder sair do ponto cego, para ter tempo de desviar de um buraco sem que um carro “cheira bunda” passe por cima dela, e para se distanciar dos bolsões de carros nas saídas de semáforos. Claro que muitos motoqueiros acabam andando mais rápido que os carros, em um claro ato de desobediência civil, já que a lei neste caso é perigosa à segurança do indivíduo. O problema é que, ao fazerem isso, acabam justificando as ignorantes generalizações de que todos os motoqueiros são imprudentes. Pior, já que vão desrespeitar a lei, alguns pensam que tanto faz desrespeitar com um acréscimo de 5 km/h ou 40 km/h, e esses que assim o fazem estão sendo sim imprudentes.
Seria bem mais fácil se reinasse a inteligência na regulamentação do tráfego urbano, permitindo que as motos circulassem só um pouco mais rápido que os carros. Bastaria ouvir o que os motoqueiros têm a dizer. Mas acho
que peço demais. É bem capaz que quando eu morrer na minha moto porque um carro me tocou por trás, já que eu estava respeitando a lei, ainda vão dizer que eu “caí sozinho”. Afinal, como todos sabem, o motoqueiro é sempre
o culpado de todos os acidentes possíveis e imagináveis, no passado, no presente e no futuro, em todos os locais, em todas as situações, por definição, a priori, ao infinito e além.